O Globo, n. 31496, 31/10/2019. Economia, p. 23

Arábia Saudita convida Brasil para a Opep

Maiá Menezes
Ramona Ordoñez



Ao encerrar a viagem à Ásia e ao Oriente Médio, o presidente Jair Bolsonaro disse ontem que a Arábia Saudita convidou o Brasil a se juntar à Organização dos Países Exportadores de Petróleo( Opep). A proposta, que reflete a crescente importância do país no mercado global de petróleo com as perspectivas do pré-sal, foi um dos efeitos econômicos do giro de dez dias por Japão, China, Emirados Árabes, Qatar e Arábia Saudita.

No último dia em Riad, capital saudita, Bolsonaro convidou investidores em um fórum a buscar projetos no Brasil em áreas como petróleo e infraestrutura. Ele disse ter recebido o convite para a Opep do príncipe herdeiro saudita Mohammed Bin Salman, a quem chamou de “irmão”.

Mas o ganho mais concreto da visita foi a disposição do governo saudita, manifestada pelo príncipe, de investir até US$ 10 bilhões de um de seus fundos soberanos em projetos no Brasil. Bolsonaro pediu mais espaço para as exportações de carnes do Brasil, enquanto a brasileira BRF anunciou a construção de uma fábrica de processados de frango de US$ 120 milhões naquele país. Bolsonaro ainda esteve com o rei Abdullah II para assinar acordos na área de defesa e de facilitação de vistos.

A simplificação de vistos também esteve na agenda de Bolsonaro com o líder chinês Xi Jinping. Em Pequim, os dois assinaram acordos e memorandos de entendimentos nas áreas de ciência e tecnologia, educação, comércio, energia e agricultura. Bolsonaro demonstrou que pretende manter uma relação pragmática com a China, principal parceiro comercial do Brasil.

O presidente convidou investidores chineses a participar dos próximos leilões de áreas de petróleo, privatizações e concessões de infraestrutura no Brasil. Fez apelo semelhante em encontros com empresários no Japão, Emirados Árabes e Qatar.

Sobre o convite para a Opep, disse que precisaria consultar os ministros da Economia, Paulo Guedes, e de Minas e Energia, Bento Albuquerque, mas admitiu interesse:

— Particularmente, gostaríamos que integrássemos a Opep. Temos reservas de óleo maiores que alguns países que já integram.

Com 3,1 milhões de barris produzidos por dia em agosto, o Brasil poderia se tornar o terceiro maior produtor da Opep, depois de Arábia Saudita e Iraque. A crescente produção brasileira é um fator que dificulta o esforço da organização — um cartel integrado por 14 países formalizado em 1960 — para manter o preço internacional do petróleo no atual patamar, assim como a produção de óleo não convencional nos EUA.

A Venezuela integra a Opep. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a manifestar interesse numa entrada do Brasil, mas isso não se concretizou mesmo após um convite formal do Irã, em 2008.

Para especialistas ouvidos pelo Globo, o ingresso na Opep não seria vantajoso no momento em que o país busca acelerar a produção de petróleo. Isso porque o cartel fixa cotas para seus países membros, limitando a produção para manter o preço internacional.

— Hoje, a Opep tem cerca de um terço da produção mundial, não tem mais o prestígio que tinha no passado. E o Brasil não pode se sujeitar às cotas — diz o ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) David Zylbersztajn.

Para Edmar Almeida do Instituto de Economia da UFRJ, a entrada na Opep tiraria a autonomia da política energética brasileira e seria incompatível com a estratégia do Brasil de entrada na OCDE. Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, concorda:

— Zero de vantagem.