Título: Gastos indevidos
Autor: Hugo Marques
Fonte: Jornal do Brasil, 16/04/2005, País, p. A4

Em Caicó (RN), os recursos repassados pelo Ministério da Educação foram gastos na compra de 87 medalhas e quatro troféus, além de bolsas de lona. O dinheiro do Ministério da Saúde foi usado para passagens aéreas, pagamento de gratificações e transferências para o Sindicato Rural. Uma pequena parcela foi para o 1º Batalhão de Engenharia e Construção do Exército.

No município de Barra do São Francisco, foi pior. Lá, o dinheiro do Ministério de Minas e Energia - destinado ao controle da produção mineral - foi transferido para entidades privadas, incluindo a Associação dos Ministros Evangélicos, que embolsou R$ 10 mil, e o Posto Alvorada, que recebeu R$ 97 mil. Duas empresas de materiais de construção também levaram sua fatia, no total, de R$ 23 mil.

A lista de compras irregulares dos prefeitos sempre inclui serviços e produtos de campanhas. Em Pianco (PB), a prefeitura gastou R$ 108 mil da saúde de forma indevida: despesas que incluem serviços fotográficos, capinação, ''kit's para bebês'', confecção de camisetas e serviços gráficos. Teve até contratação de sanfoneiro. Após a glosa, a CGU aceitou parte das justificativas e mandou a prefeitura devolver R$ 24 mil. Em Divinópolis (MG), a prefeitura fez 14 pagamentos ao ''Luiz Fotógrafo Ltda'', num total de R$ 370.

Tem ainda a lista das prefeituras estelionatárias. O município de São João do Piauí (PI) deu cheques sem fundos no valor de R$ 34 mil e ainda gastou dinheiro do Fundef em aluguel de casas e no pagamento de zeladoras. A CGU responsabiliza o prefeito Murilo Antônio Paes Landim. A prefeitura de Cristinápolis (SE) emitiu cheque sem fundos e deu dinheiro até para manicures.

Em Quixelô (CE), o dinheiro dos ministérios da Integração Nacional e do Meio Ambiente - quase R$ 1 milhão - foi gasto na construção de vários açudes. Mas todos ficam em áreas particulares, sem acesso da população. Juntos, esses 60 municípios fiscalizados pela CGU receberam no ano passado R$ 320 milhões do governo federal. Os 5,5 mil municípios brasileiros recebem mais de R$ 90 bilhões do governo por ano.