O Globo, n. 31441, 06/09/2019. País, p. 8

Polícia do Rio tem 140 inquéritos parados desde decisão sobre Coaf


Ao menos 140 investigações envolvendo o crime de lavagem de dinheiro estão suspensas na Polícia Civil do Rio após a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, que interrompeu temporariamente inquéritos embasados em relatórios de inteligência financeira sem autorização judicial. O levantamento foi divulgado ontem pelo G1.

Um dos inquéritos que atualmente estão parados no Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro da polícia é o das movimentações suspeitas de Ronnie Lessa, policial militar reformado acusado de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes. Preso desde março, Ronnie Lessa também é investigado por tráfico de armas. Um relatório do antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que passou a se chamar no mês passado Unidade de Inteligência Financeira (UIF), apontou que, sete meses após o assassinato da vereadora, Lessa fez um depósito de R$ 100 mil na boca do caixa, em sua conta.

Advogado de defesa do PM reformado, Fernando Santana afirmou ao G1 saber que há uma investigação por lavagem de dinheiro contra seu cliente, mas, segundo ele, não houve intimação para depoimentos.

Ainda de acordo com o G1, que cita fontes da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio, a decisão afetou também investigações envolvendo milícias na capital e na Baixada Fluminense, além de um apuração de suspeita de fraudes em licitação de uma prefeitura da Região Metropolitana.

Em julho, Toffoli suspendeu as investigações feitas a partir do compartilhamento de dados financeiros entre o Coaf, Receita Federal e o MP sem autorização da Justiça. A decisão deve ser analisada pelo plenário do Supremo. A liminar foi dada em resposta a um pedido do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), relativo à apuração da possível prática, em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), de “rachadinhas”— apropriação de parte do salário de assessores. O caso foi iniciado após o Coaf identificar “movimentações atípicas” nas contas do ex-assessor Fabrício Queiroz.