O Globo, n. 31560, 03/01/2020. Economia, p. 23

PIB deve ser maior em 2020, mas cenário externo é risco

Pedro Capetti



O ano de 2019 começou com otimismo, com a esperança de aprovação rápida de reformas, principalmente da Previdência. Esperava-se que o Produto Interno Bruto (PIB) crescesse 2,6%. Ao longo do ano, o pessimismo se instalou, e as previsões caíram para 0,81%, com a tragédia de Brumadinho, a guerra comercial entre Estados Unidos e China e a crise argentina. Ao fim, a liberação do FGTS e a melhora ainda que tímida do mercado de trabalho elevaram as projeções para 1,2%.

Para este ano, se nas projeções dos analistas tudo parece igual ao início de 2019, com perspectiva de crescimento acima de 2%, os fundamentos econômicos são distintos. Analistas são unânimes: a recuperação ficou mais sólida.

Lucas Vilela, economista do Credit Suisse, alerta, porém, que poderá haver revisões nas estimativas de crescimento se houver desaceleração da economia global:

— Em 2019, as incertezas se concentraram no país, com a tramitação da reforma da Previdência. Para 2020, a agenda do Congresso segue relevante, mas o cenário externo pesará mais. Se a desaceleração global for maior do que se espera, o impacto pode ser expressivo.

O aquecimento mais intenso da economia no segundo semestre de 2019 pode ajudar o resultado da economia este ano. Analistas ressaltam que o

Brasil poderá crescer pelo menos 1% em 2020 só por causa do chamado "carregamento estatístico" de um último trimestre mais aquecido. Mesmo se a variação da economia for zero em 2020, o PIB deve crescer 1%, graças ao efeito estatístico propiciado por um fim de 2019 melhor.

— Estamos entrando em 2020 com uma taxa de juros muito mais baixa do que era no ano passado e com rentabilidade das empresas muito boa, favorecendo os investimentos — diz Francisco Pires, economista da UFRJ.

Menos risco

Em 2019, a previsão inicial de expansão de 2,6% logo deu lugar a indicadores mais modestos. No auge do pessimismo, os analistas chegaram a prever que o país entraria novamente em recessão técnica, com o PIB recuando por dois trimestres seguidos. Isso acabou não ocorrendo, graças à aprovação da reforma da Previdência e à injeção de R$42 bilhões coma liberação dos saques do FGTS.

Se em 2018 a retomada da economia ficou só na expectativa, em 2019 o consumo das famílias e a construção civil reagiram, refletindo a queda da taxa básica de juros — de 6,5% para 4,5%. A inflação ficou contida e deve ter fechado 2019 próxima dos 4% (o IBGE divulga o número oficial no dia 10), abaixo da meta, de 4,25%, pelo terceiro ano seguido.

— O ano de 2019 teve o mesmo perfil de 2017 e 2018, de crescimento próximo a 1%, mas por trás dos números há realidades diferentes. Terminamos melhor do que 2018. Fizemos a reforma da Previdência e houve uma mudança quantitativa e qualitativa da política fiscal. Isso faz diferença — explica Gesner Oliveira, sócio da GO Associados.

Em 2019, o risco-Brasil chegou a 98 pontos, o menor desde 2010. A mudança de perspectiva da agência de avaliação de risco S& P sobre a nota de crédito do Brasil, de estável para positiva, também indica 2020 melhor.

A despeito da melhora da economia, o mercado de trabalho se recupera lentamente.

— A geração (de vagas) é lenta, poderia ser mais acentuada. Nesse ritmo, a taxa de desemprego só vai cair abaixo de 10% em 2022 (está em 11,2%) — afirma Bruno Ottoni, da consultoria iDados e da FGV.