Título: Tragédia pára o centro de Paris
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Fonte: Jornal do Brasil, 16/04/2005, Internacional, p. A7
Incêndio em hotel de imigrantes mata 20 e gera protestos contra ação do governo em relação a sem-tetos
PARIS - Vinte pessoas morreram, entre elas 10 crianças, e outras 11 estão em estado grave devido a um incêndio em um hotel que abrigava imigrantes e turistas no centro de Paris. A tragédia ocorreu na madrugada de ontem e foi considerada pelo presidente Jacques Chirac um dos episódios mais dolorosos que já assolaram a capital. Organizações anti-racismo, de direito à habitação e o Partido Comunista criticaram o governo.
Algumas vítimas, em um ato de desespero, saltaram da janela e atiraram os filhos, segundo testemunhas. Outras morreram queimadas ou intoxicadas com a fumaça, enquanto várias se refugiaram no telhado. Entre os feridos, que ao todo somam cerca de 50, há americanos, portugueses, senegaleses, marfinenses, tunisianos e ucranianos.
- Foi um dos mais graves incêndios em Paris em anos - disse um porta-voz da Cruz Vermelha francesa.
Não houve explosões nem há suspeitas imediatas das causas do incêndio, que levou três horas para ser apagado e consumiu o interior do Hotel Paris-Opera, de seis andares, localizado na rua Provence. A luxuosa Galeria Lafayette, próxima ao edifício, serviu de local de atendimento aos feridos.
- Você está dormindo, escuta um barulho e então pensa que é um time de futebol ou um bando de estudantes fazendo festa - disse um homem, envolto em um lençol de segurança. - Então olha para cima e há um corpo caindo, se espatifando no chão. Aí que você compreende o que está acontecendo.
O fogo começou no primeiro andar, aparentemente na cozinha do hotel - de apenas uma estrela - e logo se espalhou para a única escada, que desabou. Segundo a prefeitura, 65 pessoas, a maioria de origem africana, tinham recebido acomodação temporária no Paris-Opera como parte de um plano de auxílio moradia. Há apenas três semanas a polícia fez uma inspeção no lugar.
- Não é comum ver este tipo de incêndio em Paris - comentou o porta-voz dos Bombeiros, Laurent Vibert.
Mais de 250 homens e 64 veículos, dos quais oito ambulâncias de reanimação, foram mobilizados.
O ministro do Interior, Dominique de Villepin, foi pessoalmente ao local e o primeiro-ministro, Jean-Pierre Raffarin, determinou que os hóspedes recebam abrigo em outro lugar.
- Até agora, não há indicações de que não se trate de acidente - disse Villepin.
O Partido Comunista e grupos anti-racismo disseram que a tragédia destacou as precárias condições em que vivem muitos imigrantes e exigiram uma densa investigação do caso.
''Mais uma vez, as vítimas estão entre as famílias mais pobres'', lamentou o PC.
No mesmo tom, a associação Direito à Habitação criticou o fato de se acomodarem sem-tetos em hotéis ''inadequados, precários e perigosos'' e instou as autoridades a construir abrigos.