O Globo, n. 31440, 05/09/2019. País, p. 6

Bolsonaro volta a defender troca na direção da PF
Jailton de Carvalho


Após o presidente Jair Bolsonaro afirmar que o comando da Polícia Federal (PF) precisa de uma “arejada” e defender um novo diretor para a instituição, o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Gustavo Torres, aparece como o nome mais cotado para substituir o atual diretor da PF, Maurício Valeixo. A indicação de Torres foi levada a Bolsonaro no auge da crise entre o presidente e o ministro da Justiça, Sergio Moro. No início, o ministro se opôs à saída de Valeixo, mas depois perdeu a batalha.

Em entrevista à “Folha de S.Paulo” publicada ontem, Bolsonaro afirmou que já teve uma conversa com Moro sobre uma possível mudança na direção da PF. Para o presidente, o novo chefe “tem que ser Moro Futebol Clube”.

— Está tudo acertado com o Moro, ele pode trocar quando quiser — disse em entrevista à “Folha”.

Recentemente, Moro afirmou que Valeixo “permanece” no cargo e tem a sua “confiança”. No entanto, questionado se não há alguma possibilidade de o diretor sair, Moro afirmou que “as coisas eventualmente podem mudar”. O atual diretor entra de férias na próxima segunda-feira e ficará longe do cargo por dez dias. As férias de Valeixo estavam marcadas desde o início do ano.

Também na entrevista, Bolsonaro considerou “babaquice” a reação de policiais federais às declarações dele sobre trocas no comando da PF.

O presidente da Associação Nacional de Delegados da Polícia Federal, Edvandir Paiva, cobrou ontem firmeza do ministro da Justiça em relação às declarações de Bolsonaro sobre a iminente demissão de Valeixo. Paiva reclama que Moro tem sido hesitante ao tratar do tema.

— Se o diretor da Polícia Federal é da confiança dele (Moro), porque será trocado? Que o ministro se posicione! No momento de crise, agente espera ação do líder. Ele não é um líder? — afirma Paiva.

Articulação

Em entrevista ao GLOBO, na semana passada, o secretário geral da Presidência, Jorge Oliveira, um dos principais conselheiros de Bolsonaro, confirmou que o nome de Anderson Gustavo Torres circulou no Palácio do Planalto como uma indicação para a PF. Oliveira, aliás, esteve por duas vezes com o delegado na semana passada. Os dois são amigos de longa data. O delegado também teve um encontro com o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ)

— Da mesma maneira que chega na imprensa, às vezes chega indicação (no Planalto). Foi público. O atual secretário do DF, eu tenho relação de amizade com ele. Ele foi cogitado, inclusive, na época da transição — disse Oliveira.

Bolsonaro também mencionou Torres à “Folha”, a quem considera de extrema confiança. Ele se aproximou da família Bolsonaro e de Oliveira durante os oito anos em que foi chefe de gabinete do deputado Fernando Francischini (PSL-PR). Torres era o nome preferido dos irmãos Flávio e Eduardo, e também de Oliveira, para comandara PF desde o governo de transição.

Outros dois nomes estão cotados como possíveis substitutos de Valeixo: os delegados Alessandro Moretti, assessor de Torres, e o diretor geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. O diretor da Abin se aproximou de Bolsonaro durante a campanha eleitoral, após o esfaqueamento do então candidato.

Os embates de Bolsonaro com a PF

Atentado na campanha

As investigações da PF sobre o atentado sofrido por Jair Bolsonaro na campanha eleitoral provocaram insatisfação no presidente. Esta semana, a PF solicitou à Justiça prorrogação do segundo inquérito sobre o caso para levantar informações sobre o advogado Zanone Júnior, que defende Adélio Bispo dos Santos — autor do atentado, ele foi considerado inimputável pela Justiça por ter doença mental.

Troca de comando

Bolsonaro demonstrou descontentamento com a PF no Rio, e o superintendente no estado, Ricardo Saadi, acabou exonerado. O presidente deflagrou uma crise ao afirmar que trocaria Saadi por problemas de “produtividade”.

Mal-estar

Bolsonaro chamou de “babaquice” a reação de membros da PF sobre trocas na corporação. A declaração irritou policiais e causou mal-estar.