Correio Braziliense, n. 21414, 02/11/2021. Política, p. 3
Na Itália, polícia reprime protesto contra Bolsonaro
A polícia italiana usou jatos d'água para dispersar manifestantes que protestavam contra o presidente Jair Bolsonaro em Pádua, no norte da Itália. Em vídeos divulgados nas redes sociais, os agentes aparecem utilizando, também, cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo contra os participantes do ato.
A ação policial ocorreu antes da chegada do presidente a Pádua. O local da manifestação fica a 300 metros da Basílica de Santo Antônio de Pádua, que fez parte do roteiro da visita de Bolsonaro. O chefe do governo viajou à Itália para participar da cúpula do G20, em Roma, no fim de semana.
Em Pádua, local de origem do seu bisavô paterno, Bolsonaro se disse emocionado ao encontrar parentes. "Foi a primeira vez que estive na Itália, então é bom a gente rever as raízes. Porque meus avós foram para o Brasil. Qual o motivo? Obviamente, foram em busca de dias melhores, pela dificuldade que a Itália apresentava no momento. É gratificante. Fui bem recebido e ainda estou sendo", afirmou, em live nas redes sociais.
Bolsonaro ainda participou da cerimônia de outorga do título de Cidadão Honorário do Município de Anguillara Veneta e de um almoço oferecido pela prefeita Alessandra Buoso, de partido de extrema direita.
Depois, o presidente foi à Basílica de Santo Antônio de Pádua. A visita ocorreu após a igreja emitir nota, na semana passada, citando "constrangimento" com a homenagem oferecida ao presidente. "Não é oculto que a concessão da cidadania honorária tem gerado muito constrangimento para nós", afirmou a Basílica, na ocasião. A nota citou as mais de 600 mil mortes causadas pela covid-19 no Brasil e apontou que a gestão da pandemia está "sob holofotes".
Califórnia
Em entrevista a jornalistas na Itália, Bolsonaro se defendeu das críticas de que não combate os desmatamentos e os incêndios na Amazônia. Ele relatou perguntas de crianças italianas feitas a ele: "E a Amazônia, tá pegando fogo?". O chefe do Executivo alegou que "a Califórnia pega mais fogo que o Brasil, mas ninguém fala nada".
"O Brasil é responsável por menos de 2% de emissões de gases do efeito estufa. E o Brasil é uma das 10 maiores economias do mundo. Então, nós já contribuímos bastante. Dois terços da floresta, das matas naturais estão preservadas até hoje", afirmou. "A gente lamenta porque, para cá, a notícia que chega quase sempre não é a verdadeira. Em contato na rua, crianças perguntaram para mim: 'E a Amazônia, está pegando fogo? Daí eu falei: 'A Califórnia pega mais fogo que o Brasil, mas ninguém fala nada", acrescentou.
Bolsonaro culpou índios e caboclos por parte de focos de queimadas. "Grande parte dos focos de incêndio são os mesmos o ano todo: é agricultura de subsistência por parte de indígenas e caboclos. Agora, existe, sim, o desmatamento ilegal, existe em parte aí, fogo, né? Você pode ver, colocamos as Forças Armadas este ano com Mourão comandando, para combater esses focos de incêndio em parceria com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), entre outros órgãos governamentais", destacou, numa referência ao vice-presidente Hamilton Mourão, que preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal. (JV e IS)