Título: Vocações
Autor: DOM EUGENIO SALES
Fonte: Jornal do Brasil, 16/04/2005, Outras Opiniões, p. A11

Ocorre, no domingo intitulado do ''Bom Pastor'', este ano em 17 de abril, a celebração do Dia Mundial de Orações pelas Vocações Sacerdotais e Religiosas. Como de costume, o Santo Padre enviou, com bastante antecedência, o texto dessa Mensagem. É a 42ª e traz por título ''Chamados a fazer-nos ao largo''. Ele se refere às palavras com que Jesus exortou os primeiros discípulos a lançarem as redes para uma pesca que se revelaria milagrosa. Disse ele a Pedro: ''Duc in altum'' (Faze-te ao largo) (Lc 5,4). Pedro e os primeiros companheiros confiaram na palavra de Cristo e lançaram a rede (''Novo Millennio ineunte'', nº 1).

O Santo Padre, em seu documento, indica alguns fatores de êxito no surgimento de vocações ao Sacerdócio e à vida religiosa. Diz ele: ''A ordem de Cristo - Duc in Altum - é particularmente atual para nosso tempo, no qual se difunde uma certa mentalidade que favorece a falta de compromisso pessoal, face às dificuldades'' (Mensagem, nº 2). Para isso, é necessário crescer na prática da oração. Cabe aqui recordar a súplica dos primeiros discípulos, que assim apelavam: ''Senhor, ensina-nos a orar'' (Lc 11,1). E se, depois de muito esforço, os resultados positivos em prol das vocações não surgirem, é fazer como os apóstolos: ''Mestre, nada pescamos!'' (Lc 5,5). Exatamente nessas circunstâncias é que surgiu a ordem: ''Faze-te ao largo'' (Lc 5,4). E o sucesso foi completo. Essa diretriz vale também para os jovens, objeto da Pastoral Vocacional. Afirma o Santo Padre: ''Caríssimos jovens! Confiai-vos a Ele, escutai os seus ensinamentos, fixai o vosso olhar no seu rosto, perseverai na escuta da sua Palavra. Deixai que seja Ele a orientar cada uma das vossas buscas e das vossas aspirações, cada um dos vossos ideais e dos desejos de vosso coração'' (Mensagem, nº 4).

Nos 50 anos de trabalho a serviço do Reino de Deus, como bispo em Natal, Salvador e Rio de Janeiro, sempre dediquei especial atenção ao recrutamento e formação do clero. Deus me concedeu colher muitos frutos. Entre eles está o ocorrido no dia 24 de junho de 1995 quando, na Catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro, ordenei presbíteros, formados no Seminário São José, 22 diáconos para o serviço do Reino de Deus nesta Arquidiocese.

O Senhor Jesus, em tão largo espaço de tempo, fez-me compreender algumas lições fundamentais no campo vocacional. Não há propriamente falta de candidatos ao seminário. Eles aparecem como resultado de um grande e organizado esforço para fazer germinar a semente que o Mestre sempre generosamente espalha. O êxito na etapa seguinte, depende, em grande parte, de um ambiente onde se respire o amor à Igreja de Cristo e a fidelidade às suas diretrizes. Apresentar ao jovem um ideal facilitado por concessões não é terreno fértil onde prospere a generosidade da juventude. A vida sacerdotal facilitada não leva ao sacerdócio fecundo.

A outra lição que aprendi é dar à Pastoral Vocacional o destaque que merece, para que possa produzir frutos.

Em sua Mensagem (nº 5), o Santo Padre aborda um aspecto fundamental para o êxito em matéria tão importante. Diz ele: ''Dirijo-me, agora, a vós, queridos pais e educadores cristãos, a vós, queridos sacerdotes, consagrados e catequistas: Deus confiou-vos a peculiar missão de conduzir a juventude no caminho da santidade. Sede, para eles, exemplo de uma generosa fidelidade a Cristo. Encorajai-os a não hesitarem em 'fazer-se ao largo', respondendo sem delongas ao convite do Senhor (...) os jovens prontificam-se mais facilmente a acolher a sua mensagem exigente, marcada pelo mistério da Cruz''.

A IV Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em Puebla, em janeiro e fevereiro de 1979, abre grande espaço à Pastoral Vocacional, ''dever de toda a Igreja'' e à importância dos seminários. Reconhece que o trabalho vocacional faz parte essencial da Pastoral Familiar e deve ocupar privilegiado lugar nas dioceses, paróquias, comunidades de base, catequese e centros educacionais (Conclusão, nºs 865 a 867) e um espaço prioritário na Pastoral de Conjunto (idem, 885).

A Conferência estimula a promover as vocações no meio rural, no mundo operário, em grupos étnicos marginalizados, nos meios profissionais e universitários.

Neste 42º Dia Mundial de Oração pelas Vocações Sacerdotais e Religiosas é celebrado em singular contexto, o Ano da Eucaristia, iniciado em outubro de 2005. O título que o caracteriza é ''Mane Nobiscum Domine'' ... ''Permanece conosco, Senhor, pois cai a tarde e o dia já declina'' (cf. Lucas 24,29).

Há um íntimo e profundo relacionamento entre o Presbiterato e a Eucaristia. Aquele foi constituído por Jesus Cristo para assegurar a sua presença no mundo. Na Carta Apostólica ''Mane Nobiscum Domine'', lemos: ''De modo particular torna-se necessário cultivar, tanto na celebração da Missa como no culto eucarístico fora dela, uma consciência viva da presença real de Cristo'' (nº 18). ''A Eucaristia é mistério de presença, por meio do qual se realiza, de modo excelso, a promessa de Jesus de permanecer conosco até o fim do mundo'' (nº 16). Todo o trabalho vocacional em vista do Sacerdócio e da Vida Consagrada deve ser caracterizado pela devoção eucarística.

O 42º Dia Mundial de Orações pelas Vocações deve-nos recordar essa passagem bíblica. Ele disse a Pedro ''Duc in altum'' - Faze-te ao largo'' (Lucas 5,4-6): Pedro e os primeiros companheiros confiaram na palavra de Cristo, lançaram as redes e apanharam uma grande quantidade de peixes''. Assim ocorre com o trabalho pelas vocações, fundamental para a Igreja de Cristo. Sigamos o exemplo de João Paulo II, o Grande, que no céu nos acompanha.

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A propósito de declarações a mim atribuídas e publicadas, em parte equivocadas, em 13 de abril, por diversos meios de comunicação, quero assegurar a todos que me conhecem que não mudei de posição no trato respeitoso às autoridades constituídas e à pessoas ou grupos.