O Globo, n. 31608, 20/02/2020. País, p. 10

Rui Costa: vídeo divulgado por Flávio é falso

Rolina Heringer
Isabella Macedo
Marcos Nunes


O governador da Bahia, Rui Costa (PT), afirmou ontem que o vídeo divulgado na terça-feira pelo senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) afirmando ser da autópsia do ex-policial Adriano da Nóbrega é falso. Flávio Bolsonaro publicou em suas redes sociais imagens que teriam sido feitas em uma unidade do Instituto Médico-Legal cobrando esclarecimentos sobre possível tortura sofrida por Adriano antes de ser morto, no interior da Bahia, no último dia 9. O presidente Jair Bolsonaro, assim como a família de Adriano, também cobraram uma nova perícia no corpo do ex-PM.

A Justiça da Bahia determinou que uma nova necropsia fosse feita. O procedimento acontecerá hoje, às 14h, no IML do Centro do Rio, onde está o corpo. Conforme a decisão da Justiça baiana, a nova perícia poderá ser acompanhada por uma pessoa indicada pela família de Adriano e por outra indicada pelo Ministério Público da Bahia. A Justiça baiana também determinou que a secretaria de Segurança local forneça a gravação dos rádios usados pelos policiais no dia da operação.

Imagens

Na gravação divulgada pelo senador, o cadáver aparece de costas e, em determinado momento, é filmada a etiqueta com a identificação do corpo utilizada pela perícia da Bahia. Na postagem, o parlamentar afirmou que peritos não conseguiram concluir se Adriano foi ou não torturado antes de ser morto em uma operação policial feita pela polícia militar da Bahia.

Rui Costa disse que as imagens não são das autoridades baianas ou fluminenses, mas que não deve haver investigação sobre a autenticidade do vídeo.

— Posso lhe garantir que aquilo não é nem do IML da Bahia, nem do IML do Rio. Imagem, hoje, edita do jeito que quiser.... Nas imagens (verdadeiras) do corpo tem uma saída de bala nas costas, e as costas aí estão lisas — disse o governador após uma reunião no Senado.

Flávio Bolsonaro não se manifestou após as declarações do governador. Na véspera, o senador havia criticado também o registro de ocorrência feito pela polícia baiana, considerado por ele “genérico”.

Rui Costa disse também que o Ministério Público de ambos os estados estão em contato nas investigações.

— Deixa concluir a apuração. O Ministério Público da Bahia está cuidando, o Ministério Público do Rio continuará apurando, todos os telefones foram enviados ao Rio com chip ao Ministério Público, na íntegra, sem serem vistos. Acredito nas instituições, que o MP do

Rio e da Bahia vão deixar claro para a sociedade toda essa situação — concluiu o governador.

Em outra decisão judicial da Bahia, o juiz Augusto Yuzo, que responde pelas comarcas de Esplanada e Alagoinhas, no Norte do estado, atendeu uma solicitação do Ministério Público baiano e determinou que a Secretaria estadual de Segurança forneça as gravações dos rádios transmissores dos policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) que participaram da operação policial do dia 9. O objetivo é esclarecer a sequência de acontecimentos até a morte do ex-policial.

O juízo de Esplanada e Alagoinhas também determinou que um exame papiloscópico seja feito nas munições não deflagradas encontradas na pistola Glock, calibre nove milímetros, arma que foi supostamente encontrada com Adriano e que ele teria usado para disparar dois tiros contra um escudo usado por policiais que tentavam executar sua prisão. A perícia pode esclarecer, neste caso, se Adriano chegou a manusear a munição usada na arma.

Já o dono da casa onde Adriano foi morto, o vereador de Esplanada Gilson Batista Lima Neto, conhecido como Gilsinho da Dedé (PSL), prestou depoimento à policia civil da Bahia anteontem. Ele disse que não conhecia Adriano nem sabe como o ex-PM entrou em sua propriedade. O vereador disse que o imóvel está fechado e sendo preservado, caso a Justiça baiana fazer perícia complementar no local.