O Globo, n. 31565, 08/01/2020. Mundo, p. 21

Irã bombardeia forças dos EUA no Iraque



Numa escalada da tensão após o assassinato do general iraniano Qassem Soleimani numa operação dos EUA em Bagdá, na sexta-feira passada, duas bases militares do Iraque que abrigam forças americanas foram atacadas com mísseis balísticos na noite de ontem (hora do Brasil), em ofensiva assumida pela Guarda Revolucionária do Irã. Segundo relatos de testemunhas, entre seis e 30 projéteis atingiram a base de Ayn al Asad, no Oeste do país. O Pentágono afirmou que ao menos uma dezena de mísseis foram lançados do Irã equeu ma segunda base foi atacada em Irbil, no Norte do Iraque.

A Guarda Revolucionária afirmou em comunicado que “a feroz vingança” pela morte do general começou. Segundo a imprensa do país, a ação recebeu o nome de “Operação Mártir Soleimani”, sendo iniciada exatamente no horário em que o chefe da Força Quds — unidade de elite da Guarda Revolucionária — foi morto: 1h20 pelo horário local.

Reunião de emergência

A organização militar ameaçou atacar diretamente os EUA se o território iraniano for bombardeado. “Se os Estados Unidos responderem a esses ataques, haverá outros maiores. Isso não é uma ameaça, é um aviso”, disse o comunicado lido na TV.

“O Irã tomou medidas proporcionais em autodefesa, baseado no Artigo 51 da Carta da ONU, atacando a base a partir da qual o ataque armado contra nossos cidadãos e altas autoridades foi lançado. Não buscamos uma escalada de guerra, mas iremos nos defender contra qualquer agressão”, disse no Twitter o chanceler iraniano, JavadZarif,numt om mais ameno, reivindicando apenas um dos ataques.

A Guarda Revolucionária fez ainda uma ameaça aos vizinhos do Golfo Pérsico, dizendo que “se ataques forem lançados de bases em países contra o Irã, eles serão alvo de retaliação militar”. Haifa e Dubai foram citadas como possíveis alvos numa conta não oficial da organização no Telegram. A Guarda Revolucionária também defendeu a saída imediata das forças americanas do Oriente Médio. Há cinco mil soldados americanos no Iraque.

Uma fonte de Bagdá disse à CNN que houve vítimas iraquianas na base de Ayn alAsad, mas não soube precisar quantas. Milícias iraquianas pró-Irã teriam se unido ao ataque lançando foguetes, segundo testemunhas.

O presidente Donald Trump convocou sua equipe de Segurança Nacional à Casa Branca, incluindo os secretários de Estado, Mike Pompeo, e de Defesa, Mark Esper, para avaliar a situação. No fim da noite, em seu Twitter, ele disse que “tudo está bem” e que “a avaliação de baixas & danos está sendo feita”. “Até agora, tudo bem. Temos de longe os militares mais poderosos e bem equipados do mundo”.

Tumulto deixa 56 mortos

Mais cedo, o presidente do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, Ali Shamkhani, disse que todas as opções de retaliação aos EUA estão em discussão. Segundo ele, o Irã considera 13 “cenários de vingança”.

— Eu posso apenas prometer à nação iraniana que a vingança não deverá acontecer em apenas uma operação — disse Shamkhani.

Por sua vez, o Parlamento iraniano votou uma lei que designa como “terroristas” o Departamento de Defesa dos EUA e suas Forças Armadas.

Segundo fontes ouvidas pelo New York Times, o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do país, fez uma rara aparição no Conselho Supremo de Segurança Nacional horas após o ataque que matou Soleimani. Khamenei teria determinado os parâmetros para retaliação: um ataque proporcional e direto, realizado por forças iranianas, e não por grupos aliados.

Após o ataque, o barril WTI de petróleo bruto disparou 4,4% para US$ 65,48, na Bolsa Mercantil de Nova York. E aumentou 3,9%, para US$ 65,13 em Cingapura.

Em Kerman, onde ocorreu o funeral de Soleimani, um tumulto no cortejo de milhares de pessoas deixou 56 mortos e 213 feridos. No Iraque, 30 mil pessoas foram às ruas de Basra receber o corpo de Abu Mahdi al-Muhandis, vice-comandante das Forças de Mobilização Popular, morto no mesmo ataque que matou Soleimani.