Título: Esquenta a disputa interna no PT
Autor: Karla Correia
Fonte: Jornal do Brasil, 19/04/2005, País, p. A2
Candidatos à presidência sobem o tom das críticas ao núcleo dirigente
O ataque à política econômica do governo e a ênfase numa conduta mais independente do partido permeiam os discursos dos principais candidatos e pré-candidatos à direção do Partido dos Trabalhadores. O que varia é o tom da crítica à orientação de apoio incondicional ao governo que o atual presidente da sigla - e forte candidato à reeleição - José Genoino, tentou imprimir ao partido. Representante da tendência Campo Majoritário, da qual fazem parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Casa Civil, José Dirceu e quase todo o corpo do governo Lula, Genoino conduziu a legenda a uma atuação mais eleitoral do que militante. O resgate desse PT de militância é uma das bandeiras do pré-candidato da tendência Democracia Socialista, Raul Pont. Deputado da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, prefeito de Porto Alegre entre 1996 e 2000 e fundador do partido no estado, Pont defende uma maior aproximação da direção do partido com sua base, ao contrário do isolamento que acusa Genoíno de ter promovido. Para ele, a sigla perdeu sua capacidade propositiva com esse distanciamento e atua apenas a reboque das iniciativas do governo.
Cotado para representar uma das alas mais radicais do PT, a Articulação de Esquerda, o secretário-adjunto de relações internacionais do partido e membro do Diretório municipal do PT Campinas, Valter Pomar, endurece o já combativo discurso de Pont e defende um comportamento político quase de oposição ao governo ao pregar a autonomia do partido e a desvinculação do governo ao que chama de ''maioria conservadora do Congresso''.
Segundo ele, o apoio que o governo necessita deve vir da sociedade, não do Parlamento. Esse deve ser pressionado a cumprir uma agenda pautada no programa do PT.
Na outra ponta do espectro partidário, mas ainda assim dissidente do Campo Majoritário, a deputada federal Maria do Rosário mantém a visão do PT como um partido de sustentação do governo e reduz o tom das críticas à política econômica. Defende, sim, a baixa dos juros, como todos os outros candidatos, mas reconhece a necessidade da rigidez adotada pelo governo durante um período de grande instabilidade econômica.
- A nossa diferença para o Campo Majoritário é que eles não fazem nada, só ficam esperando o governo decidir, para depois apoiar. Nós queremos retomar uma conduta propositiva e pressionar o governo, com responsabilidade. É o que o partido está deixando de fazer no momento - afirma Plínio de Arruda Sampaio, que ajudou na elaboração do plano de reforma agrária adotado pelo governo, foi líder do partido na Câmara e integrou a lista dos 100 primeiros brasileiros cassados pela ditadura de 1964.
Sondado pela Ação Popular Socialista, ele propõe a recuperação da militância e acusa o Campo Majoritário de ter contaminado o PT com uma excessiva subordinação ao mercado.
No Palácio do Planalto há um temor de que o clima beligerante transcenda os limites do processo interno e respingue no governo. Por isso, às vésperas do pleito integrantes do governo devem sair a campo com o objetivo de blindar o presidente do PT e candidato à reeleição, José Genoino, por meio de discursos e notas de apoio. A lógica é essencialmente eleitoral. Os petistas ligados ao Campo Majoritário sustentam que o partido deve assumir a responsabilidade pela reeleição de Lula, que também está intimamente relacionada ao crescimento do PT nos estados. O líder do PT na Câmara, deputado Paulo Rocha (PA), diz que o momento é de o partido demonstrar maturidade para saber dosar eventuais críticas a Genoino e ao governo.
- O crescimento do PT está ligado à reeleição de Lula. Temos que ter responsabilidade. Não podemos extrapolar os limites da discussão democrática. Genoino é um bom presidente mesmo com todas as dificuldades naturais de exercer o cargo agora que o partido é governo - prega Rocha.