O Globo, n. 31437, 02/09/2019. Opinião, p. 2
Senado avança, com habilidade, na Previdência
Relator da reforma da Previdência no Senado, Tasso Jereissati (PSDB-CE) propôs supressões no texto aprovado pela Câmara. Entre outras coisas, sugeriu mudar as novas regras da pensão por morte, para assegurar que o valor do beneficio não fique inferior a um salário mínimo para todos, e retirou a ideia de incluir na Constituição o critério de renda para a concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Também propôs uma transição para a idade mínima de aposentadoria no caso de trabalhadores em atividades potencialmente arriscadas à saúde.
A perda de receita decorrente dessas mudanças seria compensada, segundo Jereissati, pela cobrança previdenciária obrigatória de entidades filantrópicas, com exceção de santas casas e de assistência social, e com o fim da isenção nas exportações. Isso seria implementado de forma gradual, durante cinco anos.
Pode-se discordar de aspectos pontuais da proposta de Jereissati, mas é preciso reconhecer o resultado de um hábil trabalho legislativo. As mudanças ficarão concentradas numa outra Proposta de Emenda Constitucional.
Assim, pretende-se avançar na reforma da Previdência com dois projetos em tramitação paralela, ou simultânea, no Congresso.
Um é a PEC aprovada na Câmara. Outro reúne as supressões feitas pelo relator no Senado, que abre a possibilidade de alinhamento do sistema previdenciário de estados e municípios, institui a contribuição previdenciária de filantrópicas e modifica as regras da pensão por morte.
Trata-se de uma engenharia política com objetivo de circunscrever o debate sobre aspectos mais polêmicos a um só texto, aplainando a tramitação daquele cujo conteúdo foi aprovado por consenso na Câmara.
Ao mesmo tempo, transfere aos governadores e prefeitos a responsabilidade da aprovação da reforma nas assembleias e câmaras municipais, conforme as peculiaridades e o calendário político regional.
Não haverá prazo para que mudanças sejam decididas nos estados. Na prática, o calendário será determinado pela situação de insolvência de cada governo estadual e municipal.
Nada mais democrático.