O Globo, n. 31437, 02/09/2019. País, p. 9

PF acusa hacker Delgatti de lavagem de dinheiro
Aguirre Talento


A Polícia Federal afirma pela primeira vez que encontrou “evidências” de que o hacker Walter Delgatti Neto, responsável por invadir o aplicativo Telegram do ministro da Justiça Sergio Moro e de integrantes da Lava-Jato, praticou ações que configuram “lavagem de dinheiro” e possuía aplicativos para realizar fraudes bancárias.

“Já foram encontradas no material arrecadado evidências do envolvimento de Walter Delgatti Neto (...) com ações voltadas à ocultação ou dissimulação da origem dos recursos de origem ilícita, configurando, em tese, o delito de lavagem de dinheiro”, escreveu a PF em relatório parcial do inquérito da Operação Spoofing, obtido pelo GLOBO. Além da lavagem, Delgatti é apontado como suspeito pelos crimes de violação de sigilo telefônico e invasão de dispositivo informático alheio.

A PF aponta que “ainda não é possível afirmar se o investigado teria realmente atuado sozinho e não estaria ocultando a participação de outras pessoas nos crimes investigados”.

Dentre as novas provas obtidas, chamou atenção dos investigadores uma negociação de bitcoins — um tipo de moeda virtual — no valor de R$ 1,5 milhão, que permanece inexplicada.

Ontem, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que os investigadores também encontraram troca de mensagens entre Delgatti e outro detido, Danilo Cristiano Marques, em que o hacker afirma que “acabou a tempestade” e “veio a bonança”. Os investigadores, porém, não estabelecem relação entre elas e o recebimento de dinheiro por parte do hacker.

A Operação Spoofing foi deflagrada em 23 de julho e prendeu quatro pessoas suspeitas de atuarem nas invasões do Telegram de autoridades. Delgatti afirmou que realizou as invasões sozinho e confirmou que repassou as conversas da Lava-Jato para o jornalista Glenn Greenwald, do site “The Intercept”.

Mas os investigadores desconfiam das versões apresentadas pelo hacker e dizem que ele “apresentou informações contraditórias a respeito de outros possíveis envolvidos”. O relatório da PF foi enviado na sexta-feira ao juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara Federal do DF, para informar sobre a situação dos quatro presos na operação.

A PF afirmou que há indícios suficientes para manter presos Delgatti e seu amigo Gustavo Henrique Elias Santos. No telefone de Santos, foi encontrado um diálogo no qual ele intermedeia a venda de R$ 1,5 milhão em bitcoins. Essa transação é uma das justificativas para manter sua prisão, porque suas explicações foram consideradas “contraditórias”.

Também foi considerada insuficiente a explicação sobre os R$ 99 mil em espécie encontrados em sua casa. Gustavo disse que o dinheiro teve origem na venda de um veículo, mas não apresentou comprovante dessa venda.

A defesa de Delgatti disse que não iria comentar. A defesa de Gustavo negou irregularidades, afirmou que a transação com bitcoins não se concretizou e que o documento de venda do veículo foi apreendido pela PF.