Correio Braziliense, n. 21416, 04/11/2021. Ciência & Saúde, p. 7

COP26: ajuda de nações ricas chega á pauta

Paloma Oliveto


Encerrada a fase de reunião de cúpula dos líderes mundiais, a Conferência do Clima (COP26) das Nações Unidas entrou, ontem, no momento das negociações, com destaque para as que envolvem uma questão-chave do Acordo de Paris: o financiamento de ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Um dos pontos mais polêmicos do documento elaborado em 2015 prevê que as nações ricas, que começaram a emitir gases de efeito estufa mais cedo devido ao processo de industrialização, ajudem os países em desenvolvimento e os mais afetados pelo aquecimento global a fazerem a transição para meios de produção sustentáveis, sem que isso devaste suas economias.

O acertado na capital francesa era que um fundo anual de US$ 100 bilhões estaria disponível a partir de 2020, mas os países ricos só depositaram 80% desse valor. Por sua vez, nações em desenvolvimento, como a China, o maior emissor mundial de CO2, vinculam suas metas de redução de poluentes ao cumprimento do financiamento de adaptação e mitigação.

Até agora, todas as falas dos delegados chineses e de autoridades do país, incluindo o presidente Ji Xiping — que não foi a Glasgow, mas mandou uma mensagem por escrito — associam o estabelecimento de compromissos mais ambiciosos ao pagamento do que foi prometido.

A Índia, quarto maior emissor mundial, também tem insistido nesse ponto para apresentar as contribuições nacionalmente determinadas (NDCs), incluindo as que visam a neutralidade do carbono, ou seja, quando as emissões são equilibradas pela captura de carbono, o que se obtém por meio de programas de conservação ambiental.

Ontem, Rishi Sunak, ministro da Economia do Reino Unido — o anfitrião da COP26 — prometeu que o montante não depositado será levantado em breve. “Sabemos que (os países em desenvolvimento) foram devastados por dupla tragédia, da covid e da mudança climática", declarou aos delegados. "Por isso, nós vamos cumprir o objetivo de destinar US$ 100 bilhões para o financiamento climático às nações em desenvolvimento", prometeu.

Além de Sunak, o presidente da COP, Alok Sharma, e a secretária americana do Tesouro, Janet Yellen, destacaram o papel importante que os investidores privados devem desempenhar, como um complemento imprescindível à ação pública. "O setor financeiro está pronto para fornecer o financiamento", assegurou Yellen, citada pela agência France-Presse de notícias (AFP). "Espero que, até o fim dessa conferência, alcancemos a meta de US$ 100 bilhões.”

Prudência

Com o fim da cúpula com os líderes mundiais, o bastão foi passado aos negociadores, que têm até 12 de novembro para debater as melhores formas de evitar que o mundo chegue ao fim do século com uma temperatura 2°C acima dos níveis pré-industriais. O primeiro-ministro britânico Boris Johnson, se definiu, em uma coletiva de imprensa, como “prudentemente otimista” com a nova fase da conferência.

Em uma tentativa de estimular o diálogo, os chefes de Estado e de Governo de 100 países, inclusive o Brasil, se comprometeram, na terça-feira, a reduzir em 30%, até 2030, na comparação com os níveis de 2020, as emissões de metano, gás com efeito estufa 80 vezes mais potente que o mais conhecido CO2. Apesar da liderança dos Estados Unidos e da União Europeia, segundo e terceiro maiores emissores do planeta, respectivamente, não aderiram à iniciativa a Índia, nem China e Rússia, esta última gigante da extração de gás, com um elevado percentual de vazamentos de metano em seus gasodutos de distribuição para a Europa.

Frase

"Sabemos que (os países em desenvolvimento) foram devastados por dupla tragédia, da covid e da mudança climática. Por isso, vamos cumprir o objetivo de destinar US$ 100 bilhões para o financiamento”

Rishi Sunak, ministro da Economia do Reino Unido