O Estado de S. Paulo, n. 46966, 20/05/2022. Política, p. A10

Tucanos veem investida de Aécio contra MDB como movimento pró-Bolsonaro

Lauriberto Pompeu


Desafeto do ex-governador de São Paulo João Doria, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) disse que o PSDB não deve fechar uma "aliança automática" com a senadora Simone Tebet (MS) para a eleição presidencial. Aécio já reclamou mais de uma vez que o MDB foi "sócio dos equívocos do PT". Nos bastidores, tucanos avaliam que a estratégia tem como objetivo abrir caminho para o apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

Os presidentes do PSDB, Bruno Araújo; do MDB, Baleia Rossi, e do Cidadania, Roberto Freire, decidiram anteontem indicar Simone como candidata da terceira via à sucessão de Bolsonaro. A escolha ainda terá de passar pelo crivo das executivas nacionais das três siglas, na próxima terça-feira.

Ex-presidente do PSDB, Aécio afirmou, porém, que os tucanos devem apresentar candidatura própria à Presidência para ser alternativa a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a Bolsonaro, desde que não seja a de Doria. Um importante integrante do diretório nacional do PSDB, que preferiu não ser identificado, disse que a tentativa do mineiro de barrar uma aliança com o MDB é "uma evidente ajuda a Bolsonaro" e que, ao impedir a união dos dois partidos, "algum tipo de serviço está sendo prestado" à reeleição do atual presidente.

Ao mesmo tempo, a bancada de deputados tucanos e alguns pré-candidatos a governos estaduais têm procurado se aproximar de Bolsonaro. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, o pré-candidato a governador Eduardo Riedel já declarou apoio ao presidente. Na Paraíba, o deputado Pedro Cunha Lima, que também quer ser governador, chegou a participar de ato com Bolsonaro no Estado. Justificou depois sua presença em uma inauguração de obra, ao lado do presidente, como "algo institucional".

O PSDB é rival do MDB nos dois Estados. Riedel deve ter André Puccinelli (MDB) como adversário e Cunha Lima vai enfrentar na eleição o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), apoiador declarado de Lula.

Os dois partidos também são adversários em outros Estados, como Pernambuco, onde o MDB quer apoiar o précandidato de Lula ao governo, o deputado Danilo Cabral (PSB), enquanto o PSDB quer lançar Raquel Lyra.

Alinhamento. Documentos enviados pelos próprios parlamentares ao Supremo Tribunal Federal (STF) mostram que 19 tucanos de uma bancada de 22 deputados indicaram recursos do orçamento secreto. A prática, revelada pelo Estadão, é usada pelo governo Bolsonaro para ganhar apoio político no Congresso.

Na Câmara, o PSDB costuma votar alinhado com o governo. Segundo os ofícios encaminhados pelo Congresso, pelo menos R$ 483 milhões foram apadrinhados por tucanos em 2020 e 2021. O único integrante da bancada que disse não ter indicado as emendas foi o deputado Alexandre Frota (SP). Joice Hasselmann (SP) e Aécio não responderam ao STF.

No início de abril, durante a janela partidária, período em que deputados podem trocar de partido sem o risco de perder o mandato, dez deputados se desfiliaram do PSDB. Alguns deles viraram declaradamente bolsonaristas, como Domingos Sávio, que já foi aliado de Aécio e deixou de ser tucano para entrar no PL.

O exemplo mais explícito de um tucano que apoia Bolsonaro é Riedel, que tenta suceder ao também tucano Reinaldo Azambuja no governo sul-mato-grossense. Riedel já disse que "está fechado com Bolsonaro". O caso foi levado para a reunião da executiva do PSDB anteontem, com reclamações de que a pré-candidatura de Doria atrapalha. A deputada Tereza Cristina (ProgressistasMS), ex-ministra da Agricultura, deve ser a candidata a senadora na chapa do tucano.

Ao falar do MDB, Aécio critica a parceria que o partido já teve com o PT. "Na nova matriz econômica, que levou o Brasil a três anos consecutivos de recessão, na ocupação desenfreada do Estado por um grupo político, na equivocada política externa que fez o Brasil ser conduzido por um arcaico bolivarianismo, representado por Hugo Chávez e (Nicolás) Maduro, em todos esses equívocos o MDB esteve lá", declarou.

Apesar disso, o PT atraiu uma parcela da velha guarda tucana. O ex-senador Aloysio Nunes Ferreira, que foi vice de Aécio na eleição presidencial de 2014, já declarou voto em Lula. O próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também disse que votaria no petista caso aconteça um segundo turno entre ele e Bolsonaro.

Argumento. Para evitar uma aliança com o MDB, o principal argumento citado pelo mineiro é de que Simone Tebet pode ser rifada pela própria legenda na convenção partidária. Aécio tem reclamado, em conversas reservadas, que não quer ficar a reboque do que vão decidir caciques do outro partido, como o senador Renan Calheiros (AL) e o ex-presidente José Sarney, que apoiam Lula.

Uma ala do PSDB ainda tenta fazer com que o senador Tasso Jereissati (CE) ou o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite possam ser candidatos do partido. De acordo com a avaliação de um integrante da executiva, que até pouco tempo apoiava Doria, existem três tipos de presidenciáveis para os candidatos a governador: o que atrapalha, o que ajuda e o que não ajuda nem atrapalha. A avaliação geral, segundo ele, é a de que Doria, pela rejeição que acumulou, atrapalha.

"Na ocupação do Estado, na equivocada política externa, em todos esses equívocos o MDB esteve lá."

Aécio Neves

Deputado (PSDB-MG)