O Globo, n. 31589, 01/02/2020. País, p. 6

Resistiu
Gustavo Maia
Naira Trindade
Daniel Gullino


De volta das férias, abreviadas por conta da crise que se instalou na Casa Civil do Palácio do Planalto, o ministro Onyx Lorenzoni foi chamado ontem à tarde pelo presidente Jair Bolsonaro para uma reunião ministerial no Palácio da Alvorada que discutiu a resposta brasileira ao coronavírus. Em meio a rumores de demissão ou realocação de Onyx para outra pasta, Bolsonaro disse ao GLOBO, ontem à noite, que o "convite responde muita coisa", sinalizando a permanência do ministro no governo. "Ele esteve hoje, convocado por mim, para discutir a questão do coronavírus. Acho que [o] convite responde muita coisa", afirmou o presidente, por mensagem.

Em seguida, Bolsonaro compartilhou uma foto em que aparece ao lado do ministro da Educação, Abraham Weintraub, publicada também em suas redes sociais. Segundo o que ministros palacianos classificam como "boataria", Onyx substituiria Weintraub na pasta em uma "saída honrosa", como avaliam aliados do chefe da Casa Civil.

Quando chegou dos Estados Unidos ao aeroporto de Brasília, o ministro foi enfático ao dizer que "claro que não" considera entregar o cargo. Ele minimizou as baixas que seu ministério sofreu ao longo da semana, mas não chegou a discutir com o presidente a demissão do ex-secretário-executivo Vicente Santini e a retirada do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), transferido para o guarda-chuva de Paulo Guedes no Ministério da Economia. Onyx reafirmou ser um "soldado" de Bolsonaro e disse estar focado na mensagem que entregará ao Congresso na abertura do ano legislativo, na segunda-feira. Hoje, ele tem outro encontro marcado com o presidente, desta vez em uma conversa privada, para "entender as razões" do chefe.

Pela manhã, o ministro declarou que sua missão, junto com Bolsonaro, é servir o Brasil, mas destacou que qualquer decisão cabe ao presidente, inclusive a de transferi-lo de ministério, como tem sido aventado nos bastidores do governo.

No Planalto, Onyx reuniu-se com os ministros Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo — uma "ótima conversa", segundo um dos participantes. Após o almoço, foi ao Alvorada para a reunião com Bolsonaro. Lá, não foi recebido separadamente pelo presidente, que só falou com ele na presença dos demais. Assim, o presidente evitou ser pressionado pelo subordinado.

Entrevista suspensa

Questionado pelo GLOBO sobre a conversa que terá hoje com Onyx, Bolsonaro respondeu por mensagem que esteve com o ministro "já na tarde de hoje", mas não se alongou. Mais cedo, o presidente encerrou abruptamente uma entrevista na qual falava do coronavírus ao ser indagado se o chefe da Casa Civil continuaria no governo. O presidente estava acompanhado dos ministros Ramos, Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Fernando Azevedo (Defesa).

— Bem, já que deturpou a conversa, acabou a entrevista. Obrigado, pessoal — declarou, encerrando a interação de 12 minutos com os repórteres. — Ao pessoal que tá ouvindo aqui, a entrevista tratava exclusivamente da questão do coronavírus e, quando começam outras perguntas, a gente sai fora porque o que nós queremos é solução para o Brasil, e não problema — complementou Bolsonaro, olhando para a câmera que transmitia a cena ao vivo pelo Facebook.

Em entrevista à GloboNews, Onyx disse que a hipótese de ele deixar a pasta foi uma "onda" que se formou na imprensa. "Ninguém está cogitando qualquer tipo de saída. Conversei com generais, ministros, com todo mundo", afirmou ao jornalista Gerson Camarotti. "Estou sereníssimo, muito tranquilo. Somos amigos, parceiros de um projeto. Meu líder se chama Jair Messias Bolsonaro. Ele é o meu presidente", acrescentou.

Em uma lembrança que também serve como recado, o ministro disse ter lutado muito quando ninguém apostava em Bolsonaro, "uma postura rara". "Nós começamos praticamente sozinhos. Nós e mais dois deputados. Tenho muita confiança nele. E ele em mim", disse.

À tarde, o ministro da Casa Civil ganhou um apoio público significativo. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) publicou nas redes sociais um vídeo em que Onyx aparece ao lado do ideólogo de direita Olavo de Carvalho, espécie de guru da família Bolsonaro, nos Estados Unidos, gravando uma mensagem para o presidente. "Nós estamos com o senhor até a morte", diz Olavo na gravação.

Aliados de Onyx avaliam que o Ministério da Cidadania, de Osmar Terra, ou da Educação, de Abraham Weintraub, possam ser a saída honrosa para ele. Segundo fontes, Bolsonaro avalia que Terra não entrega resultados e é indicação de Onyx.

Em meio às especulações de que o chefe da Casa Civil poderia substituir Abraham Weintraub no MEC, deputados bolsonaristas saíram em defesa da permanência do ministro olavista. No Twitter, a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), aliada de Weintraub, criou a #Weintraubfica e disse que "não é fácil nem passará impunimente (sic) a luta contra 'os senhores da educação'. Os oligarcas por trás do sistema de cartel que se instalou no MEC farão de tudo para se manter numa espécie de Poder paralelo".

"Ele esteve hoje, convocado por mim, para discutir a questão do coronavírus. Acho que [o] convite responde muita coisa" Jair Bolsonaro, ao comentar rumores sobre demissão de Onyx

"Ninguém está cogitando qualquer tipo de saída. Conversei com generais, ministros, com todo mundo" Onyx Lorenzoni, ao negar que deixará a pasta em entrevista