O Estado de S. Paulo, n. 46553, 02/04/2021. Metrópole, p. A15
Falsa enfermeira fazia vacinação delivery, aponta polícia
Leonardo Augusto
A falsa enfermeira presa em Belo Horizonte por supostamente vacinar pessoas contra a covid em uma empresa de ônibus atuava em áreas nobres da cidade, em esquema de delivery, desde o início de março. A suspeita é de que ela aplicava soro fisiológico em vez de imunizante – o material foi apreendido pela polícia. A mulher cobrava R$ 600 por duas doses.
A falsa enfermeira presa pela Polícia Federal por realizar suposta vacinação contra covid-19 em garagem de empresa de ônibus em Belo Horizonte já atuava com o esquema em áreas nobres da cidade desde o início de março, segundo investigações da Polícia Federal. Os agentes encontraram soro fisiológico na casa dela e a suspeita é de que ela tenha aplicado falso imunizante nas pessoas.
As autoridades constataram que a mulher, na verdade uma cuidadora de idosos, atendia também em casa. Conforme as investigações, um dos bairros em que ela mais fez “atendimentos” – em casas e apartamentos – foi o Belvedere, de classe alta, na zona sul de BH. “Os moradores lá estão todos sem saber o que fazer”, afirma um empresário que frequenta a região.
Diligências feitas pela PF encontraram na casa dela ampolas de soro fisiológico. A suspeita é que era isso que vinha sendo aplicado nas pessoas que contratavam seus serviços.
Ainda conforme a polícia, a falsa enfermeira, com o dinheiro que ganhava com a aplicação da “vacina”, estava comprando um carro e um sítio. Segundo a revista piauí, que denunciou a imunização clandestina na garagem de ônibus, a falsa enfermeira cobrava R$ 600 por duas doses do que afirmava ser vacina.
A suspeita da PF é que o filho da cuidadora seja o responsável pelo recebimento dos pagamentos, que ocorriam, muitas vezes, via PIX, o que vai facilitar as investigações das autoridades. Ele vai prestar depoimento na segunda-feira.
Vídeos aos quais o Estadão teve acesso mostram uma mulher de jaleco branco em meio a carros em uma garagem no bairro Caiçara, noroeste de BH. A suposta vacinação, no local, ocorreu nos dias 22 e 23. Pelo menos 80 pessoas passaram pelo local naquelas duas noites.
A garagem é de empresa do grupo Saritur, conforme contou um funcionário ao Estadão. No início da semana, os empresários Rômulo Lessa e Robson Lessa, da Saritur, disseram à PF ter comprado o que acreditavam ser imunizantes de forma irregular.
A lei autoriza a compra de vacinas por empresas, desde que sejam repassadas ao SUS, enquanto não acabar a imunização dos grupos prioritários.
Fura-fila
80 pessoas
receberam doses de suposta vacina contra a covid-19 em garagem de empresa de BH, estima a Polícia Federal. Compra de imunizante pela iniciativa privada sem doação ao SUS é ilegal.