Título: Quadrilha faz pacto de silêncio
Autor: Melissa Medeiros
Fonte: Jornal do Brasil, 19/04/2005, Brasília, p. D5

Os 13 envolvidos no assassinato do bancário José Vásques combinam versões contraditórias para atrapalhar a polícia

Um pacto de silêncio explica as versões contraditórias e o mistério em torno do assassinato do funcionário do Banco do Brasil, José Eduardo Vásques, 46 anos, ocorrido dia 10 último, em sua casa no Guará 2. A estratégia era dificultar as investigações e impedir que a polícia chegasse a todos os envolvidos. O delegado-chefe da 4ª Delegacia de Polícia (Guará), João Carlos Lóssio, disse que o pacto começou a ser quebrado sábado, quando Rogério Varela Santiago, 22 anos, confessou ter assassinado bancário e como o crime foi arquitetado, indicando os autores e co-autores.

Na manhã de ontem, os 11 suspeitos, sob prisão temporária, foram levados à delegacia para prestar depoimento. Dentre eles, as indiciadas Daniele de Almeida Barcelos Vásques, 20 anos, filha da vítima e apontada como uma das mentoras do crime, e sua mãe Maria Cleusa Barcelos Vásques, 48 anos, acusada de ser a maior interessada na morte de José Eduardo. Para a polícia Maria Cleusa estaria cuidando das recompensas para o bando. O suposto pai-de-santo, José Carlos de Oliveira, 40 anos, já indiciado, teria incorporado a entidade espiritual à qual Daniele encomendou a morte do pai. A pedido da jovem, José Carlos tentou vender a casa da vítima. Também foi indiciada ontem a cuidadora de Maria Cleusa, a enfermeira Josiane de Sousa Porto, 28 anos, apontada pela polícia como a pessoa mais inteligente da quadrilha. Ela é suspeita de ter arquitetado as contradições que surgiram no início das investigações.

Segundo o delegado, com base no noticiário, Josiane manipulava os outros envolvidos e desviava as atenções da polícia, dificultando a conclusão das investigações.

- Vamos ouvir os envolvidos várias vezes e usaremos todos as técnicas para elucidar esse crime. Ainda há muitos pontos contraditórios e, para não atrapalhar o bom andamento do inquérito, vamos manter sigilo - avisou o delegado Lóssio, que adotou essa tática desde o final da semana passada e chegou aos 13 envolvidos no sábado.

Também está presa a mãe-de-santo Jandira Custódio, 39 anos, atual mulher de José Carlos, que testemunhou Daniele encomendar a morte do pai ao ''espírito''. Conforme a polícia, Jandira é cúmplice do estelionato por ter participado, junto com o marido, da tentativa de venda da casa da vítima. Há suspeita de que Jandira ajudou no planejamento do crime.

O namorado de Daniele, Alexandre Pereira de Deus, é acusado de conhecer as articulações do crime e ter cedido sua casa para as reuniões da quadrilha.

A polícia prendeu ainda o cunhado de Joseane, Rogério Varela Santiago Patrocínio, 22 anos. Ele assumiu, sábado último, a autoria pelos disparos que mataram José Vásques. Rogério disse à polícia que receberia R$ 40 mil - R$ 15 mil antecipados e R$ 25 mil depois da execução do bancário.

Maria Cleusa cuidava das finanças da quadrilha e já havia pago R$ 6 mil para os atiradores Arlindo Pereira de Souza, o Beto, e Dudu [sem identificação conhecida]. Ambos estão foragidos.

Domingo, a polícia prendeu ainda Lílian Canedo do Nascimento, mulher de Beto, que recebeu, em sua conta bancária, R$ 1.600, que teriam sido transferidos da conta bancária de Maria Cleusa, a ex-mulher da vítima.

Também está presa temporariamente a sobrinha de Joseane, Wanessa Porto Correa. Ela é acusada de ter participado das articulações com os matadores. Wanessa é foragida da polícia de Ibotirama (BA) por integrar uma quadrilha de assaltantes de ônibus interestaduais e abrigava dois foragidos em sua casa. Ainda esta semana, o delegado Lóssio pretende fazer a reconstituição do crime. O ponto de partida será o Supermercado Extra, da Asa Norte, de onde a vítima teria saído para levar compras para a ex-mulher Maria Cleusa, no Guará 2, onde foi assassinado.