Título: Brasileiro apóia métodos anticoncepcionais
Autor: Paulo e Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 20/04/2005, País, p. A4

Pesquisa CNT-Sensus mostra que 85% dos entrevistados reprovam aborto

A esmagadora maioria do mais populoso país católico do mundo é favorável ao planejamento familiar, com a utilização de métodos anticoncepcionais, e também aprova a distribuição de camisinhas e ''pílulas do dia seguinte'' às populações de baixa renda em todos os estados. Este é um dos mais expressivos resultados da 75ª rodada da Pesquisa CNT-Sensus, divulgada ontem, quando o novo papa foi escolhido.

Bento XVI vem sendo apresentado pelos vaticanistas como de perfil conservador e ferrenho opositor da adoção de métodos anticoncepcionais e do uso de preservativos.

Se mais de 80% dos entrevistados se mostram favoráveis ao planejamento familiar e à adoção de métodos anticoncepcionais, quando o assunto é o aborto, as posições se invertem radicalmente: 85% são contra.

Mesmo em casos de violência sexual, há mais gente que condena a prática: 49,5%, contra 43,5% que admitiram o aborto, nessa circunstância.

Foram ouvidas duas mil pessoas, em 24 estados, entre os dias 12 e 14 de abril.

O planejamento familiar - o direito do homem e da mulher de escolherem o número de filhos que querem ou podem ter - é defendido por 82,9% dos entrevistados, enquanto 12,7% dos pesquisados se mostraram contrários a essa possibilidade.

A Confederação Nacional dos Transportes também quis saber se a população é favorável à utilização de algum método anticoncepcional, sem especificar qual (camisinha, diafragma, pílulas ou dispositivos intra-uterinos). O resultado foi ainda mais expressivo: 87,2% foram favoráveis, e 9,7% contrários.

A população também espera e apóia uma ação mais efetiva do governo no planejamento familiar e no controle da natalidade. Dentre os pesquisados, 84,4% apoiaram a distribuição, pelo governo, de preservativos e pílulas do dia seguinte para as famílias de baixa renda.

Bandeira de muitos movimentos feministas e algumas ONGs, a prática do aborto continua não sendo bem vista pela população. Dentre os dois mil entrevistados, apenas 12,3% o defendem o aborto.

Segundo Gilberta Soares, 39, secretária-executiva das Jornadas Brasileiras pelo Direito ao Aborto, a pesquisa tem um defeito: segundo ela, deturpa a realidade pelo modo como foram feitas as perguntas.

-Tratam como tabu. Botam o rótulo. Quem é a favor do aborto é contra a vida e quem é contra é a favor da vida. O assunto continua guardado, o aborto continua proibido e as mulheres continuam morrendo.

Como alternativa, ela sugere que se questione se uma mulher que abortou deve ir para a cadeia. A maioria certamente responderia que não, de acordo com Gilberta Soares.

O ministro Humberto Costa (Saúde) voltou a afirmar hoje que continua válida a norma técnica de sua pasta que retira a obrigatoriedade de exigência do boletim de ocorrência para a realização de um aborto legal em caso de gravidez resultante de estupro.

Com Folhapress