O Globo, n. 31589, 01/02/2020. Sociedade, p. 33

Cerco ao vírus


Os Estados Unidos intensificaram ontem sua resposta à epidemia do coronavírus, declarando uma situação de "emergência de saúde pública". Dentre as medidas, que começam a valera partir deste domingo (2), a mais drástica será vetar a entrada no país de estrangeiros que estiveram na China nos últimos 14 dias, período de incubação do vírus. A exceção será para parentes de cidadãos americanos e de residentes permanentes.

O secretário de Saúde americano, Alex Azar, anunciou ainda que qualquer cidadão americano que esteve na província de Hubei, na China, nos últimos 14 dias, ao voltar para casa ficará em quarentena por até duas semanas. Aqueles que estiveram em outras partes da China estarão sujeitos a "triagem proativa" e até duas semanas de monitoramento e um eventual isolamento. O governo já isolou em uma base militar na Califórnia os 195 americanos que foram retirados de Wuhan, epicentro do vírus. Essa é a primeira quarentena estabelecida pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA em 50 anos. O país decidiu também concentrar todos os voos da China em apenas alguns aeroportos, incluindo o John F. Kennedy, em Nova York; o O'Hare, em Chicago; e o aeroporto de São Francisco, na Califórnia.

Os EUA registram sete casos confirmados de infecção, sendo que um deles ocorreu de pessoa para pessoa dentro do território americano. Na noite desta sexta, o governo chinês divulgou que o coronavírus já matou 259 pessoas no país — pelo mundo, há 11.791 casos confirmados. Rússia, Reino Unido, Espanha e Suécia anunciaram os primeiros diagnósticos. Um total de 23 países já registra casos.

No Brasil

Também ontem, o Ministério da Saúde anunciou que monitora 12 casos suspeitos do novo coronavírus no Brasil — na véspera, o número era nove. Os diagnósticos estão em São Paulo (7), Rio Grande do Sul (2), Santa Catarina (1), Paraná (1) e Ceará (1). O Brasil segue, portanto, em nível de "perigo iminente", quando só há suspeitas, mas sem confirmação. O caso da estudante de 22 anos internada em Belo Horizonte foi descartado.

As suspeitas divulgadas são de pessoas que apresentaram febre e ao menos um sinal ou sintoma respiratório, como tosse ou dificuldade para respirar. Eles se enquadram na atual definição decas o suspeito para onCoV-2019 (o novo coronavírus), estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, para ser considerado um caso suspeito, é preciso que a pessoa tenha estado na China nos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sintomas. Pessoas que não foram à China também podem ser consideradas casos suspeitos desde que apresentem os sintomas e tenham tido contato próximo, nos 14 dias anteriores, com alguém considerado caso suspeito ou confirmado. A partir da próxima semana, além da Fiocruz, no Rio de Janeiro, mais dois laboratórios, o Insituto Adolfo Lutz (SP) e o Instituto Evandro Chagas (PA), vão realizar os exames para coronavírus.

Protocolo da OMS

Na última quinta, a OMS declarou que a epidemia de coronavírus é uma "emergência de saúde pública internacional". Secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira disse que o Brasil já segue as recomendações anunciadas oficialmente pela OMS:

— O Ministério da Saúde avalia que todas as recomendações da OMS se encontram dentro do nosso plano de contingência, e não há nenhuma alteração nas condutas em decorrência da declaração de emergência.

André de Souza, de Brasília, com agências internacionais