Título: Don Balduíno critica José Alencar
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 20/04/2005, País, p. A5
Religioso ataca também agronegócio
BRASÍLIA - O presidente nacional da Comissão Pastoral da Terra, dom Tomás Balduíno, acusou ontem o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, de ser ''conivente'' com o fato de camponeses atuarem no Brasil em situação análoga à escravidão.
- Até que se prove o contrário, ele é conivente com o trabalho escravo, porque disse que esses 3.000 trabalhadores que em 2004 foram libertados, não são escravos - atacou no evento de lançamento do caderno de conflitos no campo em 2004.
O ataque do presidente da CPT ocorreu com base em declaração de Alencar feita em agosto do ano passado durante congresso sobre agronegócio. À época, ele disse:
- Não posso dizer que haja trabalho escravo. Há trabalho degradante. Escravo é quem não tem liberdade e tem dono. É preciso não haver condenação contra o setor agrícola moderno sem apuração.
A declaração de Alencar é citada no caderno Conflitos no Campo, divulgado pela CPT. Ontem, a coordenação da pastoral também citou o apoio de Alencar nas últimas eleições a Antério Mânica, prefeito eleito de Unaí e acusado de ordenar, no ano passado, o assassinato de quatro funcionários do Ministério do Trabalho.
Informada sobre o teor da reportagem, a assessoria de Alencar não se manifestou sobre as declarações de dom Tomás Balduíno.
No evento de ontem, dom Tomás voltou a atacar o agronegócio, dizendo que o setor é ''violento'' e ''ameaçador'', além de contrário à reforma agrária. O presidente do braço agrário da Igreja Católica ainda se disse ''frustrado'' com o governo Luiz Inácio Lula da Silva.
A CPT divulgou seu balanço de conflitos no campo de 2004. Segundo a entidade, o número de invasões de terra avançou 26% de 2003 para 2004, passando de 391 para 496 casos. O total do ano passado ficou abaixo dos de 1998 (592) e 1999 (502).
Entre 2003 e 2004, o número de assassinatos no campo recuou 47%, de 71 para 37 casos. No intervalo, porém, o número de conflitos pela terra no país subiu de 1.335 para 1.398. Ontem, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, foram apresentados à imprensa 22 trabalhadores rurais que, segundo a CPT, estão sob ameaça de morte.