O Estado de S. Paulo, n. 46558, 07/04/2021. Política, p. A8

Vacinas são prioridade, diz novo chanceler

Célia  Froufe


Em evento fechado, sem a participação da imprensa e sem transmissão ao vivo, o novo ministro das Relações Exteriores, o embaixador Carlos Alberto Franco França, tomou posse ontem com um discurso em tom apaziguador interna e externamente, uma guinada em relação às ações de seu antecessor, Ernesto Araújo. O novo chanceler declarou que o combate à pandemia de covid-19 será uma de três urgências, sublinhadas por ele mesmo, enquanto estiver à frente da pasta – as outras duas são economia e questões climáticas.

França falou sobre o papel do Itamaraty no combate à pandemia ao lado do Ministério da Saúde, buscando novas fontes de oferta de vacinas no exterior, e a maior abertura do País ao mundo, independentemente de questões de outras naturezas que não sejam as dos interesses do Brasil. "Sabemos todos que essa é uma tarefa que extrapola uma visão unicamente de governo. E que, no governo, compete também ao Itamaraty, em conjunto com o Ministério da Saúde", defendeu, sobre a coordenação do governo em relação ao surto.

Ele prometeu ampliar a rede de contatos das missões e consulados brasileiros no exterior para realizar uma "verdadeira diplomacia da saúde". "Em diferentes partes do mundo, serão crescentes os contatos com governos e laboratórios, para mapear as vacinas disponíveis. Serão crescentes as consultas a governos e farmacêuticas, na busca de remédios necessários ao tratamento dos pacientes em estado mais grave", disse.

O novo ministro prometeu ainda uma atuação no Itamaraty no exterior sem preferências ou exclusões. Este também é um dos pontos que mais o diferenciam de seu antecessor, que, durante sua gestão nos dois primeiros anos do governo de Bolsonaro, fez ataques públicos à China. "Meu compromisso é engajar o Brasil em intenso esforço de cooperação internacional, sem exclusões. E abrir novos caminhos de atuação diplomática, sem preferências desta ou daquela natureza", afirmou, conforme discurso distribuído pelo ministério.

França disse que, na Organização Mundial do Comércio (OMC), o Itamaraty está trabalhando por uma iniciativa sobre comércio e saúde. Segundo ele, são positivas as declarações da nova diretora-geral da instituição, a nigeriana Ngozi Okonjoiweala, sobre a necessidade de um consenso amplo que garanta acesso a vacinas, com mais produção e melhor distribuição. "Asseguro que os recursos da nossa diplomacia permanecerão mobilizados para atender às demandas das autoridades de saúde."

A agenda da modernização da economia é fundamental para o Brasil e ela não tem como ocorrer sem que o País se abra para o mundo, segundo o ministro. "Como ensina o presidente Bolsonaro, o brasileiro quer vacina e quer emprego. E, para crescer e gerar mais empregos, a agenda da modernização da economia é fundamental", disse, acrescentando não se tratar de agenda estritamente doméstica. Para o novo ministro, não há modernização sem mais comércio, investimentos e melhor integração às cadeias globais de valor.

O embaixador reforçou a importância de se ter um relacionamento com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) cada vez mais estreito – o Brasil tenta se candidatar a uma vaga no organismo multilateral com sede em Paris desde a oficialização do pedido, ainda no governo de Michel Temer. "Não há modernização sem abertura ao mundo – e por essa razão a nossa política externa tem um sentido universalista, sempre guiado pela proteção de nossos legítimos interesses."

Pontes. Em seu discurso de posse, o novo ministro das Relações Exteriores enfatizou ainda a importância do diálogo e afirmou que o diplomata é um "construtor de pontes". "O diálogo é essencial na resposta a todas essas urgências: a sanitária, a econômica e a ambiental", disse. Estar voltado para fora do País, no entanto, não é a única tarefa do Itamaraty, segundo ele. "Não será suficiente dialogar com outros países. Esse é o mínimo, é a alma do nosso negócio."

O Estadão/broadcast conversou com três servidores que atuam no País e no exterior sobre o pronunciamento do chanceler e a sensação foi de alívio depois de dois anos considerados como delicados para o Itamaraty. Os diplomatas também gostaram da figura desenhada pelo embaixador de que o ofício da diplomacia é similar ao de um "construtor de pontes". A maior dúvida segue com o direcionamento da pasta em relação à sustentabilidade.

Vizinhos O Mercosul, que completa 30 anos, também foi citado como uma etapa construtiva da integração com os vizinhos. Para França, porém, é preciso ir além e abrir novas oportunidades.

'Caminhos'

"Meu compromisso é engajar o Brasil em intenso esforço de cooperação internacional, sem exclusões. E abrir novos caminhos de atuação diplomática."

Carlos Alberto Franco França

Chanceler