Título: Fiéis cariocas mostram decepção
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Fonte: Jornal do Brasil, 20/04/2005, Internacional, p. A9

A maioria dos fiéis cariocas não recebeu calorosamente a escolha de um novo papa com perfil mais conservador. Mesmo contrariados os devotos rezaram para que a trajetória de Joseph Ratzinger, o papa Bento XVI, seja iluminada. O arquiteto João Vicente Cabrera, de 32 anos, quando soube que a eleição tinha sido decidida, foi para a Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, rezar.

- Fiquei um pouco decepcionado. Esperava que os cardeais escolhessem alguém com um perfil mais moderno, com uma visão de renovação, que não fosse conservador - afirmou. - Gostaria de um papa que revisse questões que fazem parte do nosso cotidiano, como a ordenação da mulher, casamento, aborto. Mas perece que a Igreja, que tem que acompanhar a evolução da humanidade, está fechando os olhos para ela.

Na mesma paróquia, Teresinha, de 74 anos, que não disse o sobrenome, ressaltou a provável perda de fiéis.

- Queria alguém mais progressista. A Igreja precisa disso, está muito fechada - lamentou. Perto dela, Guilherme Magalhães, de 87 anos, que aguardava a bênção da tarde, concorda:

- Se a instituição mantiver o que está fazendo vai acabar perdendo devotos. Os padres precisam se aproximar mais das camadas pobres. - disse.

Padre Jorjão, da paróquia, preferiu ressaltar as qualidades de Ratzinger:

- Estamos felizes porque o papa foi eleito, é um homem muito inteligente, um grande teólogo. Não importa as conjecturas será um grande papa - disse.

- Estava preocupado de ser alguém moderno. Vai seguir o que João Paulo II fez, enfim, repetir as palavras de Jesus - festejou o economista Francisco Camões de Meneses, de 71 anos, rezando para que Ratzinger tenha um pontificado feliz e longo apesar dos seus 78 anos.

No Centro, diante do Mosteiro de São Bento, que representa a imagem assumida pelo novo papa, a espanhola Carmem Santana, de 51 anos, também criticou:

- Este é excessivamente conservador e vai fazer mais proibições - lastimou.

A opinião não é endossada pelo padre Anselmo Chagas, diretor da faculdade de Filosofia e Teologia do Mosteiro de São Bento.

- Não é o caso de ser conservador ou progressista, mas de ser fiel ao Evangelho - afirmou o padre. Ali perto, houve quem comemorasse. É o caso de Míriam Gama, que acompanhou tudo, ao lado da filha Cláudia, nas tevês de uma loja de eletrodomésticos na Rua Uruguaiana:

- Precisamos de um papa assim, com força - disse, batendo palmas.