Título: Alemão esteve no Brasil há 15 anos
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 20/04/2005, Internacional, p. A15

O novo papa, Joseph Ratzinger, esteve uma vez no Brasil. Em 1990, veio ao Rio de Janeiro para um encontro de atualização dos bispos brasileiros, cujo tema foi a função do munus (missão específica) papal na Igreja atual. Ele esteve hospedado na Residência Assunção, da Arquidiocese do Rio, onde reside Dom Eugênio Salles, arcebispo emérito da cidade. Ratzinger ainda mantém laços de amizade com o cardeal brasileiro.

A visita ao Rio durou 10 dias, nos quais o então prefeito da Congregação da Doutrina da Fé conheceu pontos turísticos, como o Cristo Redentor. Também passeou com outros cardeais, conservadores e progressistas, na Baía de Guanabara. Mas São Pedro não ajudou muito: o tempo esteve nublado naquele 25 de julho. Apesar das nuvens, Ratzinger disse que achou a navegação ''muito agradável''.

Mais do que fazer turismo, o cardeal criticou as teologias que se inspiravam no marxismo, como a Teologia da Libertação. O curso teológico ministrado aos bispos e cardeais foi marcado pelos discursos de representantes conservadores da Igreja.

- É falsa aquela teologia que identifica a fé com determinada posição socio-política e reduz a Igreja a um partido - afirmou Ratzinger, em 1990. - A fé já não é a fé cristã integral, mas uma fé parcializada, que não responde à totalidade da realidade humana.

Quando perguntado por jornalistas sobre se havia na América do Sul teólogos a quem caberiam estas restrições, o cardeal preferiu desconversar.

- Não seria ético citar nomes aqui - justificou, deixando de falar do ex-frade Leonardo Boff, que cinco anos antes recebera do próprio alemão uma ordem de silêncio obsequioso, por um ano, por defender a Teologia da Libertação.

Em entrevista ao Jornal do Brasil, Ratzinger sustentou que o problema da Teologia da Libertação não estava na palavra libertação, ''porque este é um conceito chave do cristianismo''.

- O problema nasce de uma idéia politizada da liberdade, reduzindo sua dimensão. Uma Igreja politizada tem uma posição parcial e não é mais a Igreja universal, aberta a todos. O segundo aspecto, que prevalece no mundo rico, é aquele de uma idéia anárquica de liberdade, confundida com o arbítrio de poder fazer tudo. Nesse caso, o conceito de liberdade perde seu grande sentido moral, humanitário e cristão - disse.

O alemão analisou ainda um fenômeno que há 15 anos já era forte: a perda de fé das populações nas grandes cidades.

- O percentual de ateus cresce e isto é preocupante. Ao mesmo tempo, onde a perda de Deus se torna completa também volta a existir um novo desejo por Deus. O homem, a longo prazo, não pode viver sem Ele. Sem conhecer a fé, experimenta um vazio insuportável, como mostram as grandes desgraças de hoje, como a Aids e as drogas. Acho que este é o grande desafio da Igreja: não há fé, mas existe um novo desejo de conhecer Deus. Temos que encontrar uma maneira de responder a este desejo - professou.

Durante a visita ao Brasil, Ratzinger também se encontrou com o rabino Henry Sobel, representante das entidades judaicas.