O Globo, n. 31574, 17/01/2020. País, p. 8

Wajngarten divide opiniões no governo e na família do presidente

Jussara Soares


Personagem da mais nova crise no Palácio do Planalto, o chefe da Secretaria Especial de Comunicação da Presidência da República (Secom), Fabio Wajngarten, divide opiniões no governo e na própria família Bolsonaro.

Apesar de receber elogios do presidente, a atuação do secretário passou a ser criticada no fim do ano passado pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), seu aliado quando chegou ao cargo há dez meses. No dia 19 de dezembro, Carlos escreveu numa rede social que a comunicação do governo “sempre foi uma bela porcaria”.

Wajngarten é próximo do advogado Frederick Wassef, atualmente à frente da defesa do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) no caso envolvendo seu ex-asssessor Fabrício Queiroz e o suposto esquema de “rachadinha” em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio.

Ainda na pré-campanha presidencial, Wassef apresentou Wajngarten como um homem capaz de abrir portas em emissoras de TV. Wajngarten passou a organizar jantares com empresários e atuar na aproximação de Bolsonaro com a comunidade judaica e a elite paulista. Vetado por Gustavo Bebianno, ex-ministro e então coordenador da campanha, não teve atuação efetiva na propaganda eleitoral.

A aproximação com a família, de fato, só ocorreu após Bolsonaro ter sido esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG), em setembro de 2018. Filho de um médico do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, Wajngarten teria atuado para que Bolsonaro fosse transferido para o local. Durante os 23 dias de internação, Wajngarten tinha acesso livre ao quarto do então candidato e se aproximou de Carlos Bolsonaro. O contato com o presidente e Carlos foi retomado quando Bolsonaro passou 17 dias hospitalizado para a retirada da bolsa de colostomia , entre janeiro e fevereiro de 2019.

Em abril do ano passado, Wajngarten assumiu a Secom com o apoio de Carlos. Na época, a Secretaria de Governo, pasta a qual a Comunicação é subordinada, era comandada pelo ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz, que, dois meses depois, deixou o governo em decorrência de atritos com Wajngarten e o filho do presidente.

Sucessor de Santos Cruz, o ministro Luiz Eduardo Ramos se aproximou do chefe da Secom e atuou para amenizar atritos de Wajngarten com o portavoz da Presidência, Otávio Rêgo Barros. Ambos disputavam espaço no atendimento aos jornalistas.