Título: Brasil, campeão dos juros 'irreais'
Autor: Samantha Lima
Fonte: Jornal do Brasil, 20/04/2005, Economia & Negócios, p. A19

Mesmo sem nova alta, hoje, país seguirá como líder do ranking das maiores taxas do planeta, descontada a inflação

O Brasil segue carregando o título de país com as maiores taxas de juros reais (descontada a inflação) do planeta e somente um ''milagre'' ao fim da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) hoje poderia tirar do país o incômodo recorde. De acordo com a Consultoria GRC Visão, com uma taxa básica de juros de 19,25% ao ano estipulada pelo Banco Central, atualmente o país apresenta juro real de 12,9%. Para ser desbancado pela Turquia - em segundo lugar, com 7,3% - seria necessária uma redução de 5,25 pontos na Selic. Nos últimos sete meses, a taxa foi elevada em 3,25 pontos, e parte do mercado aposta que o Copom promoverá hoje outra elevação, de pelo menos 0,25 ponto.

A primeira posição no levantamento também pertence ao Brasil no item taxa nominal de juros. E, se confirmar a expectativa do mercado, o país vai se distanciar ainda mais da Venezuela, em segundo lugar com 17,1% ao ano. Segundo a GRC, que realiza mensalmente a pesquisa, caso o Copom decida por uma elevação de 0,25 ponto percentual, o juro real vai para 13,2% ao ano. Se for mantido o ritmo de alta estipulado nas últimas reuniões, aumentando em meio ponto, a taxa real pula para 13,4%.

Segundo a GRC, o Brasil já lidera o ranking desde setembro. E vem ampliando essa distância. Em fevereiro, antes da sexta elevação consecutiva da Selic, o juro real era de 12,3%.

- Na improvável queda de 0,25 ponto, o juro real ainda fica em 12,7% ao ano - avalia Alex Agostini, da GRC Visão. - É uma taxa que atrai o capital externo destinado ao setor financeiro, num fluxo que já se mantém desde que foi retomada a alta dos juros, em setembro. Mas certamente espanta o investimento produtivo, porque encarece o financiamento, o que pode levar o investidor a adiar sua decisão ou optar por outro país.

A média de juros reais nos 40 países pesquisados é de 1,2% ao ano. O Brasil supera em mais de dez pontos percentuais a média dos demais emergentes, de 2%. Nos países desenvolvidos, a taxa é de 0,6%. O juro nominal médio é de 4,8% no mundo; os emergentes apresentam 7,6% e os desenvolvidos, 2,5%.

Se o Copom dificilmente tirará esse título do Brasil até o fim do ano - a previsão do mercado é de uma Selic em 18% em dezembro -, os demais países também não ajudarão a melhorar a situação brasileira.

- A Turquia, por exemplo, promoveu ajustes na economia após a crise de 2000 e está em trajetória de queda dos juros há um ano - diz Agostini.