O Globo, n. 31593, 05/02/2020. País, p. 10

Líderes querem reverter afastamento de deputado
Natália Portinari
Naira Trindade


As principais lideranças de partidos do centrão e da oposição na Câmara dos Deputados articulam para reverter o afastamento do deputado Wilson Santiago (PTBPB), denunciado por corrupção pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A votação em plenário para decidir o tema irá acontecer hoje.

O afastamento foi determinado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello em dezembro do ano passado. O argumento de líderes ouvidos pelo GLOBO é que, mesmo se os fatos forem considerados graves, não seria correto afastar um parlamentar apenas com base em uma denúncia, sem que ele tenha sido condenado por algum crime.

Para que Santiago continue impedido de exercer o mandato é preciso que 257 dos 513 deputados votem para manter a decisão do Supremo. Uma das estratégias para salvar o parlamentar é o esvaziamento da sessão. Assim, se os votos necessários para manter o deputado fora da Câmara não forem alcançados, o afastamento será revertido.

O assunto foi tema ontem de reunião de líderes na residência oficial de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara. O líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), que é promotor de Justiça, foi um dos poucos que se manifestaram a favor do afastamento do colega. Os principais representantes do centrão (PP, PL, DEM, SD) e de partidos de esquerda defenderam reverter a medida imposta pelo Supremo.

Há dificuldade para encontrar um relator para a votação. O primeiro cotado era o deputado Fábio Trad (PSDMS). Ele cogitou questionar o STF a respeito do tempo que o deputado passaria afastado. Os líderes que são contra o afastamento não gostaram da estratégia. Trad, então, desistiu da relatoria.

Santiago é um dos alvos da operação Pés de Barro, da Polícia Federal, que investiga suspeitas de superfaturamento em obras no interior da Paraíba. Ele e outros suspeitos, como o prefeito de Uiraúna, João Bosco Nonato Fernandes (PSDB), são investigados por peculato, lavagem de dinheiro, fraude licitatória e organização criminosa.

A denúncia da PGR apresenta uma conversa em que uma pessoa discute o trâmite do suposto pagamento de propina ao deputado federal. Há também vídeos de transporte de dinheiro, além de que o ex-prefeito de Uiraúna coloca dinheiro na cueca, valores que, segundo a Procuradoria, eram destinados a Wilson Santiago.

O deputado tem negado qualquer irregularidade e afirma que as investigações têm levado em conta apenas a palavra de um delator.