O Globo, n. 31594, 06/02/2020. Economia, p. 21
Corte de juros
Manoel Ventura
Gabriel Shinohara
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu ontem a taxa básica de juros, a Selic, de 4,5% para 4,25% ao ano, nova mínima histórica. O corte veio dentro das expectativas do mercado. O comunicado do Copom também sinaliza o fim do atual ciclo de redução nos juros, que começou em julho do ano passado.
A Selic está agora em seu menor patamar desde 1999, quando começou o regime de metas para a inflação. De acordo com o boletim semanal Focus, do BC, a projeção dos economistas é que a Selic permaneça em 4,25% até o fim do ano, voltando a subir, possivelmente para 4,5%, em janeiro de 2021. O comunicado do Copom ressalta que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na condução da política monetária.
“Considerando os efeitos defasados do ciclo de afrouxamento iniciado em julho de 2019, o Comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária. O Comitê enfatiza que seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação, com peso crescente para o ano-calendário de 2021”, diz o texto.
O comunicado do BC também cita a maior incerteza no cenário externo, sem mencionar os impactos nos mercados provocados pela epidemia do novo coronavírus na China. O texto considera que os dados da atividade econômica divulgados desde a última reunião, em dezembro, “indicam a continuidade do processo de recuperação gradual da economia brasileira”.
Em suas projeções, o BC já considera uma taxa de câmbio a R$4,25. Ontem, o dólar comercial encerrou a R$ 4,239, em queda de 0,45%.“O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.”
Segundo cálculos da gestora Infinity Asset, com o corte de ontem, o Brasil passa da 11ª para a 9ª posição em um ranking global de juros reais (descontada a inflação). O patamar fica em 0,91%.
Inflação ainda favorável
A Selic orienta o que bancos, cartões e financeiras cobram de seus clientes — ontem mesmo, o Banco do Brasil anunciou redução nos juros de linhas de crédito para pessoas físicas e jurídicas. A taxa também é o principal instrumento do BC para conter a alta de preços. Com a inflação em baixa, a autoridade monetária pode reduzir os juros, o que também funciona como estímulo para a economia.
Para este ano, a previsão do mercado é de que a inflação medida pelo IPCA fique em 3,40% e, para 2021, em 3,7%. A meta central de inflação para 2020 é de 4%, com margem de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo. Para o PIB, projeta-se crescimento de 2,3% este ano.
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, considera que, apesar da alta do dólar e do recente choque de preços da carne, o cenário para a inflação ainda é favorável:
— O surto do coronavírus estás e configurando como um choque deflacionário potencial para a economia brasileira, tanto por preços mais baixos de commodities quanto por menor crescimento global.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que há espaço para outros cortes na Selic, te se o país avançar coma agenda de reformas. E a Firjan elogiou aquedados juros e também reforçou a necessidade de reformas.