Título: Índios macuxi criticam homologação de reserva
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 22/04/2005, País, p. A4
Representantes de comunidades indígenas de Roraima temem ficar isolados
BOA VISTA - O prefeito de Normandia (RR), Orlando Justino (PSB), teme que a homologação contínua das terras indígenas Raposa Serra do Sol possa isolar comunidades indígenas. A preocupação é compartilhada pelos índios tuxauas macuxi Gabriel Silveira e Anastácio da Silva, das comunidades Raposa e Patativa, respectivamente - ambas localizadas no município. - Nós já temos 200 anos de contato com os não-índios, nossa situação é muito diferente daquela vivida pelos ianomâmi. Hoje, a comida consumida na área indígena vem da cidade. Se o Lula não se reeleger e o próximo presidente não apoiar os indígenas, quem vai garantir nossa sobrevivência? - disse o prefeito, que se auto-denomina macuxi.
Gabriel informou que os 800 macuxi que vivem na comunidade plantam seu próprio alimento, como no caso do milho e da mandioca. Mas confirmou que a dependência em relação ao Estado é grande:
- Há hoje 23 professores macuxi, funcionários públicos estaduais, na Raposa. Eles temem perder o emprego - contou.
O governador de Roraima, Ottomar Pinto (PTB), já afirmou que vai tirar da terra indígena todos os serviços prestados pelo estado.
Para o prefeito de Normandia, o outro lado negativo da homologação contínua da reserva é o fato de expulsar os 15 produtores de arroz que lá trabalham. Os arrozeiros, porém, não pagam impostos à prefeitura.
- A gente está elaborando o Código Tributário Municipal e a saída dos arrozeiros de Normândia frustrou nossa expectativa de aumento de receita - argumentou Orlando.
Segundo ele, a atual verba da prefeitura, de cerca de R$ 45 mil mensais, vem de repasse federal, do Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
Ainda segundo o prefeito, Normandia tem quase sete mil habitantes, dos quais quatro mil vivem na sede do município.
- Não sei exatamente os marcos da reserva indígena, mas creio que 80% de Normandia ficaram dentro da Raposa Serra do Sol - disse.
Ontem foi o quarto dos sete dias de luto oficial decretado pelo governador de Roraima em função da homologação da terra indígena. Para a antropóloga Mônica de Freitas, da Secretaria de Estado do Trabalho e Bem Estar Social, a população está sendo vítima do terrorismo ideológico.
- As pessoas são contra a Raposa Serra do Sol sem nunca terem ido lá. Elas não sabem que no fundo defendem apenas meia dúzia de arrozeiros -, analisou.
O vereador de Normandia Eduardo Oliveira (PDT) resumiu o clima de hoje na capital de Roraima.
- Aparentemente, é mais um feriado tranqüilo. Mas há muita tensão e incerteza no ar - alertou.