Título: Povo se cansou do Estado
Autor: Olivia Hirsch
Fonte: Jornal do Brasil, 22/04/2005, Internacional, p. A8

A facilidade com que um presidente pôde ser deposto no Equador trouxe a preocupação sobre a fragilidade das instituições em um país que acabou de destituir seu presidente eleito - assim como aconteceu com seus dois antecessores -, esvaziou a Suprema Corte e tem um Parlamento amplamente questionado.

- A classe política está desprestigiada em seu conjunto, sente asco por essa pretendida elite política - comenta o analista Fernando Bustamante. Para ele, a fragilidade institucional também surge pelos permanentes desacordos entre os setores políticos e sociais.

- Infelizmente, o novo presidente não tem muito apoio, e sua legitimidade é algo que ainda está na ordem do ''veremos'', precisa se consolidar - avalia. - Há anos o recurso da lei e da constitucionalidade é hipócrita e irreal. Infelizmente, não vivemos em um Estado de direito, não podemos invocar uma Constituição que cada um pisoteia e manuseia, de forma grotesca, na hora que convém - afirmou Bustamante.

Para o analista Eduardo Carminiagni, desde dezembro de 2004 ''o Equador vivia uma ditadura''.

- Houve a mudança na Corte e, em conseqüência, a Constituição não vigorava. Há uma hipocrisia, não abandonada, ao dizer que vivemos num Estado de direito - acrescentou.

Para o deputado democrata-cristão Ramiro Rivera, ''há um tipo de cansaço, de tédio e de decepção pelos 25 anos do que conhecemos como democracia''.

- Minha opinião é que os deputados, e rápido, também deveriam ir para suas casas - disse.

''Que todos vão embora'', era o grito nas ruas de Quito, refletindo uma situação inédita no país, que em uma semana foi palco de protestos contra os três Poderes, dos quais dois - Executivo e Judiciário -- caíram em quatro dias. O desgaste atingiu seu ápice quando o Congresso anulou a reforma na Corte Suprema. Antes de ser destituída, porém, a corte absolveu dois ex-presidentes e um ex-vice de acusações de corrupção, o que levou aos protestos da população.