Título: Lula mandou avião
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 22/04/2005, Internacional, p. A8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou ontem a ida de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para trazer ao país o presidente deposto do Equador, Lucio Gutiérrez. Lula já havia concedido asilo político ao ex-presidente, deposto na quarta-feira.

Só no início da noite de ontem, contudo, a embaixada brasileira no Equador - onde Gutiérrez estava - conseguiu negociar com o novo governo um salvo-conduto para proteger o presidente deposto no trajeto entre a casa, cercada por protestos e policiais, e o aeroporto internacional de Quito. Grupos de oposição fizeram coro em frente à representação diplomática, gritando: ''Lula, amigo, não lhe dê asilo'', gritavam.

O documento foi pedido pelo embaixador brasileiro Sérgio Florêncio. Fontes do Ministério da Justiça disseram que, desde a hora em que pediu asilo na embaixada, no bairro de Mariscal, depois de ter sido impedido de sair do país em um avião, o ex-presidente passou a ser protegido pelo Brasil.

- O pedido é mais uma questão diplomática, de boas relações com o novo governo - afirmou um assessor do Ministério da Justiça.

Sem obtê-lo, Lucio Gutiérrez pode ser preso ao deixar o território brasileiro em Quito, conforme ordem da procuradora-geral, Cecilia Armas.

Por conta disso, o avião da FAB ficou pousado em Rio Branco, Acre, aguardando um chamado e a autorização para prosseguir viagem, o que deveria acontecer hoje.

A decisão de Lula foi tomada de manhã, após conversa com o ministro das relações exteriores, Celso Amorim. A preocupação do governo, no processo, foi evitar a imagem de que, ao conceder, primeiro asilo diplomático e depois territorial, o Brasil estaria tomando posição no conflito. A autorização de asilo territorial pode levar dias, mas o desejo expresso do presidente em ajudar o colega é um sinal de que não haverá surpresas. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, ordenou rapidez no processo.

Segundo o embaixador brasileiro em Quito, Gutiérrez foi sozinho para a sede diplomática, mas o asilo foi solicitado também para sua mulher e filhos. Florêncio explicou que, ao pedir asilo, o presidente deposto se comprometeu a ''não praticar atividades políticas ou dar declarações de conteúdo político'' no exílio.