Título: Ratzinger mantém cúpula intacta
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Fonte: Jornal do Brasil, 22/04/2005, Internacional, p. A9

Sinalizando continuidade, novo líder da Igreja confirma o italiano Angelo Sodano como secretário de Estado do Vaticano

CIDADE DO VATICANO - O papa Bento XVI deu ontem uma clara demonstração de que não pretende fazer mudanças significativas na Santa Sé. Joseph Ratzinger manteve o cardeal Angelo Sodano, de 77 anos, como secretário de Estado do Vaticano - cargo que o italiano ocupa desde 1990 e que é o segundo na hierarquia da Igreja Católica.

Além de Sodano, cardeais e arcebispos que chefiavam outros departamentos da Cúria Romana - ou a burocracia central vaticana - foram confirmados em seus postos, nomeados por João Paulo II. A prefeitura da Congregação para a Doutrina da Fé, cargo que Ratzinger ocupou por 23 anos, ainda não foi decidida.

Segundo a imprensa italiana, Bento XVI teria vencido o conclave com pelo menos 100 dos 115 votos possíveis - bem mais do que os 77 necessários para a eleição papal. Outros detalhes que emergiram ontem dão conta de que na primeira votação, ocorrida na segunda-feira, o alemão sequer tinha 50% de apoio. Ele estaria empatado, em 40 votos, com o cardeal Carlo Maria Martini. Mas doente - o italiano de 78 anos sofre de uma forma de Mal de Parkinson - e impressionado com a homilia pré-conclave na qual Ratzinger pediu que os prelados defendessem a tradição da doutrina cristã, Martini teria instado seus aliados que votassem na terça-feira pelo guardião do dogma.

Pego desprevenido com o movimento de Martini, o bloco anti-Ratzinger, liderado pelos prelados alemães Karl Lehmann e Walter Kasper, não teve tempo suficiente para mobilizar outros moderados para bloquear a ascensão do conterrâneo ao trono de São Pedro.

Os cardeais latinos, considerados entre os favoritos, também não chegaram a representar obstáculo.

- Na votação, eles sumiram - contou o chileno Francisco Errazuriz Ossa, arcebispo de Santiago.

Com o maciço apoio a Ratzinger, os cardeais mostraram que desejavam continuidade e que rejeitavam mudanças reformistas do papado de Karol Wojtyla. Também indicou que o colégio cardinalício queria um representante duro e experiente, com fortes qualidades de liderança, para enfrentar os desafios do século 21.

Por isso, muitos prelados afirmaram que, mais do que a homilia de segunda-feira, o fator chave para a seleção de Bento XVI foi sua habilidosa administração da Igreja desde a morte de João Paulo II, em 2 de abril - no período chamado sede vacante - e sua reputação de ser um homem rígido e comprometido em defender a doutrina.

- Ratzinger era uma possibilidade desde o início, por sua forte presença. Ele foi o decano do colégio, fez sermões durante o funeral e a significativa homilia pré-conclave. Todos sentíamos que ele era um irmão com qualidades superiores - afirmou ao La Reppublica o cardeal austríaco Christoph Schönborn.

Aparentemente, o colégio temia ainda que uma votação que durasse dias pudesse sinalizar que a Igreja estava dividida.

- O catolicismo encontrou seu líder de novo. Não creio que houvesse alguém na Capela Sistina que fosse semelhante a ele como teólogo, pastor e homem de grande intuição - opinou o bispo espanhol Cipriano Calderon Polo.