O Globo, n. 31595, 07/02/2020. Rio, p. 14

Em busca do detergente derramado

Felipe Grinberg


Técnicos da Secretaria estadual do Ambiente e do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), com o apoio de policiais militares, vistoriaram ontem seis empresas do Distrito Industrial de Queimados. O objetivo era descobrir a origem do vazamento do detergente que levou ao fechamento da Estação de Tratamento de Água do Guandu por 14 horas. Duas foram multadas e outras duas, interditadas. No entanto, a vistoria não descobriu de onde saiu o produto que causou a poluição.

Há 32 indústrias instaladas no distrito, que foi fundado em 1976. As empresas ficam junto ao Rio Queimados, que desemboca na lagoa de captação da estação do Guandu. Análises laboratoriais mostram que o curso d’água tem níveis baixíssimos de oxigênio devido ao despejo irregular de dejetos. Enquanto equipes vasculhavam as empresas, outros agentes faziam um voo de helicóptero na região à procura de possíveis lançamentos de esgoto industrial sem tratamento.

Na operação de ontem, a confecção Citycol foi interditada por falta de licenciamentos ambientais. Os fiscais do Inea autuaram ainda a empresa por lançar esgoto no meio ambiente sem o devido tratamento. As caixas de energia foram lacradas. Os fiscais também fecharam a desentupidora Nova Era por não respeitar o mínimo de 30 metros de faixa até o Rio Queimados e por descarte irregular de resíduos. Duas máquinas de terraplanagem que estariam sendo usadas para desmatara área foram apreendidas. O responsável pela empresa foi levado para prestar esclarecimentos numa delegacia.

— Eles estão com esse problema da Cedae e começaram a fiscalizar tudo. Não jogamos nada no rio. As máquinas estão aí por causa da chuva que passou, para agente poder andar e o caminhão passar— disse Célia da Silva, funcionária da Nova Era, acrescentando que a indústria tem todas as licenças.

Já a Burn ,empresa de produtos de limpeza e higiene, foi multada por armazenamento irregular de matéria-prima e destinação incorreta do esgoto sanitário. O valor não foi divulgado. Os técnicos do Inea também estiveram na Piraquê, que recebeu uma multa de R$ 5 mil por descumprir um item do licenciamento. A empresa de alimentos foi intimada ainda a adequar a sua estação de tratamento de esgoto e implantar um dique de contenção, para evitar acidentes.

O frigorífico Vifrio, que também passou pela vistoria, terá que fazer adequações ambientais. Na empresa Lanlimp, não foram encontradas irregularidades. Ao “RJ TV”, da Rede Globo, um diretor da Citycol afirmou que o local está com as operações paradas desde as vésperas do Natal e que a fábrica tem estação de tratamento de esgoto certificada pelo Inea. A Vifrio afirmou que as providências estão sendo tomadas, mas frisou que os problemas não provocam a poluição do rio. As outras empresas não se manifestaram.

A Secretaria de Meio Ambiente de Queimados também participou da operação. Grande parte da fiscalização das empresas instaladas no distrito é de responsabilidade do município, que conta com apenas dois agentes.

Em nota, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) disse que a fiscalização de ontem foi uma “tentativa transferir para o setor produtivo a responsabilidade pela degradação da qualidade das águas do Rio Guandu, resultado da falta de implementação das políticas de saneamento”.