O Globo, n. 31598, 10/02/2020. Sociedade, p. 25

Repatriados
Marco Grillo


Os repatriados brasileiros que deixaram Wuhan, na China, chegaram pouco depois das 6h de ontem à Base Aérea de Anápolis (GO). As duas aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) que foram à China resgatar 34 pessoas — 30 brasileiros e 4 chineses — pousaram no início da manhã depois de escalas em Urumqi (China), Varsóvia (Polônia), Las Palmas (Espanha) e Fortaleza. Desde a saída, em Wuhan, na tarde de sexta-feira, foram mais de 37 horas de viagem.

O Ministério da Defesa informou que os 34 repatriados desembarcaram em bom estado de saúde, sem sintomas de contaminação pelo coronavírus.

As aeronaves chegaram à instalação militar trazendo 58 pessoas. O grupo é composto por brasileiros que viviam na cidade chinesa, três diplomatas que atuam em Pequim, médicos, dois jornalistas que foram acompanhar o resgate (um da FAB e outro da Empresa Brasil de Comunicação), além da tripulação das duas aeronaves envolvidas na operação de resgate.

Aqueles que foram efetivamente repatriados são 34 pessoas, e já estava decidido que fariam uma quarentena de 18 dias. Os outros integrantes da comitiva foram avaliados na chegada, e em seguida ficou decidido que ficariam em isolamento também. O primeiro avião pousou às 6h12, enquanto o segundo pousou seis minutos depois. Em torno de 50 militares aguardavam na pista, com coletes amarelos, para realizarem procedimentos de limpeza dos materiais usados durante o voo.

Mensagem do presidente

Assim que as aeronaves entraram no espaço aéreo brasileiro, na madrugada de sábado para domingo, o sistema de som divulgou uma mensagem em que o presidente Jair Bolsonaro desejava boas-vindas ao grupo.

“Vocês acabaram de entrar no espaço aéreo brasileiro. Bem-vindos de volta ao seu país, o nosso Brasil. Ninguém ficou para trás. Somos um só povo, uma só raça, somos irmãos. As nossas Forças Armadas, os ministérios das Relações Exteriores e da Saúde, a Câmara e o Senado, bem como a Anvisa, trabalharam incessantemente para que essa missão fosse coroada de sucesso. Em pouco tempo, estarão em solo pátrio e em um ambiente totalmente preparado para recebê-los. No estado de Goiás, terão também todo o apoio do nosso governador Ronaldo Caiado e do hospitaleiro povo do Centro-Oeste. Sejam bemvindos. Daremos a todos o melhor de nós. É muito bom tê-los de volta”, disse Bolsonaro no áudio gravado.

A primeira atividade prevista para o domingo foi um briefing, em que o grupo conheceu o espaço da base e foi orientado sobre o uso de equipamentos, acesso e o horário das refeições. Os repatriados dormem em quartos preparados no Hotel de Trânsito dos Oficiais e poderão circular por uma área externa definida, em um total de 900 metros quadrados. Sempre que estiverem fora dos quartos, eles terão que usar máscaras.

Acomodações

Haverá três avaliações médicas por dia, e um boletim diário será divulgado pelo Ministério da Saúde. Caso um dos integrantes do grupo apresente sintomas de contaminação pelo coronavírus, será removido para uma outra área dentro da base. E, se a situação se agravar, será levado de helicóptero para o Hospital das Forças Armadas, em Brasília. A capital fica a cerca de 150 quilômetros de Anápolis.

O tenente-brigadeiro do ar Marcelo Damasceno, coordenador da operação, afirmou que no primeiro dia na base, após os primeiros exames médicos, os quarentenados teriam um “momento de acomodação”.

— Vão repousar, tentar ajustar o jet lag depois dessa jornada longa e cansativa.

No fim do dia, houve uma apresentação sobre as regras da base e sobre o espaço de convívio. Imagens das acomodações divulgadas pelo Ministério da Defesa mostram os dormitórios, que são 38 suítes, com três configurações diferentes: para casais, solteiros e casais com filhos.

Depois da quarentena, dos 34 repatriados, os três diplomatas devem seguir de volta para a China. Outros 11 vão para São Paulo, cinco para Brasília, quatro para o Paraná, quatro para Santa Catarina, quatro para Minas Gerais, um para o Rio Grande do Norte, um para o Pará e um para o Maranhão.

Cinco pessoas que estavam a bordo desembarcaram em Varsóvia, na Polônia, primeira escala fora da China: quatro poloneses e um chinês. Havia também a previsão de que uma mulher indiana fizesse o mesmo trajeto, mas ela não conseguiu embarcar em Wuhan por problemas no passaporte.

908 mortes

Ontem, a China anunciou que o surto continuou a crescer, sobretudo na província de Hubei, epicentro da epidemia do novo coronavírus. Outros 2.618 casos foram confirmados, e 91 pessoas morreram na região no domingo. Os casos de Hubei já colocavam a quantidade de infectados em mais de 40 mil desde o início do surto.

O último número de mortos reportado pela China foi de 908. Com essa cifra, o novo patógeno ultrapassa o coronavírus da MERS (síndrome respiratória do Oriente Médio) como aquele que mais deixou vítimas. Após eclodir em 2012, a MERS, que infectou menos pessoas mas tem uma taxa de letalidade mais alta, matou 898 pessoas até 2019.