O Estado de S. Paulo, n. 46568, 17/04/2021. Política, p. A4
Planalto cede e CPI da Covid terá Renan como relator
Lauriberto Pompeu
Daniel Weterman
A CPI da Covid definiu seus principais cargos e deve iniciar os trabalhos na próxima semana. Com minoria na comissão, o Palácio do Planalto cedeu e aceitou o acordo fechado por senadores independentes e de oposição. O presidente da CPI será Omar Aziz (PSD-AM), a vice-presidência ficará com Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e a relatoria, com Renan Calheiros (MDB-AL).
Com receio de perder o controle da CPI, o Palácio do Planalto chegou a pressionar aliados para tirar Renan do cargo de relator. Articuladores do presidente Jair Bolsonaro queriam emplacar o senador Marcos Rogério (DEM-RO), vice-líder do governo, na vaga de Renan. O Planalto não queria o senador do MDB como relator, uma função estratégica na CPI, porque, além de ser crítico de Bolsonaro, ele apoia o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Após um dia de negociações, no entanto, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), telefonou para Aziz e para o líder do MDB, Eduardo Braga (AM) e disse que o Planalto respeitaria o trabalho. Fez isso porque o MDB havia ameaçado se rebelar.
Os seis senadores independentes e de oposição – que hoje têm maioria na CPI – já haviam fechado o acerto que previa Aziz no comando da CPI, Randolfe na vice-presidência e Renan como relator. Aziz é um nome que apesar de se considerar independente, tem bom trânsito no Planalto. Na última hora, no entanto, o Planalto viu que poderia sofrer mais um revés em uma CPI convocada para investigar atos e omissões do Executivo Federal na pandemia. Declarações de Aziz com críticas a Bolsonaro assustaram o gabinete presidencial. Mas, apesar da pressão, o governo não conseguiu mudar a composição da CPI.
Duas reuniões foram feitas ontem entre o grupo de seis senadores, conhecido como G-6 e composto por Renan, Randolfe, Eduardo Braga, Tarso Jereissati (PSDB-CE), Humberto Costa (PT-PE), e Otto Alencar (PSD-BA). Para o segundo encontro, chamaram Aziz. O senador do Amazonas reafirmou o compromisso com a indicação de Renan. O grupo estava desconfiado porque, mais cedo, Aziz havia sondado Braga. Ele recusou. " Se quiserem pacificar, têm de estar de acordo com o partido, avisou Braga.
A pressão do Planalto foi tanta que houve até tentativa de troca de nomes do PSD na CPI. O partido dem o Ministro das Comunicações, Fábio Faria. " O governo não tem que interferir. A CPI tem autonomia", disse Randolfe. “Não sei que raiva o governo tem de mim. Houve mesmo muita pressão”, afirmou Renan.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), anunciou nesta sexta-feira, 16, que a CPI será instalada no próximo dia 22, após o feriado de Tiradentes, ou 27. A sessão de abertura será presencial. O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) já começou a montar um plano de trabalho.
Inicialmente com foco no governo Bolsonaro, a CPI teve seu escopo ampliado para Estados e municípios após pressão de governistas. Dos 11 integrantes, porém, o governo tem quatro senadores declaradamente aliados. “Não tem governo de direita, centro ou esquerda, que não tenha cometido equívocos. Em todos os Estados, está tendo morte", questionou Aziz, em entrevista ao Estadão/Broadcast.