Título: Gestos de continuidade e conciliação
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 21/04/2005, Internacional, p. A9

Sumo Pontífice celebra missa, cita João Paulo II e declara que quer diálogo ''aberto e sincero com todos''

AFP O papa conversou com crianças durante um breve passeio

VATICANO - No primeiro dia do seu pontificado, o papa Bento XVI tentou conter o ceticismo despertado por sua ascensão e os temores de que será rigidamente voltado para a própria Igreja. Em uma homilia aos cardeais na Capela Sistina, Joseph Ratzinger declarou buscar o diálogo com outras fés e culturas e citou o nome de João Paulo II várias vezes, demonstrando intenção de continuidade. Também contou que teve uma sensação de ''inadequação'' após sua eleição.

- Por um lado tenho um sentimento de incompetência e de confusão. Por outro, sinto uma profunda gratidão a Deus, que não abandona seus seguidores e sempre os guia - disse.

A ascensão de Bento XVI foi saudada por conservadores, mas recebida com reservas pelos reformistas. Ciente, o papa adotou um discurso conciliatório.

- Acolho a todos com simplicidade e amor para assegurá-los de que a Igreja quer continuar um diálogo aberto e sincero com eles.

Intelectual que nunca hesitou em condenar os críticos dos ensinamentos contra a contracepção, ordenação de mulheres, divórcio e homossexualismo, Ratzinger pediu a ajuda e as orações de todos. Depois, tomou posse do apartamento papal, que será reformado. Enquanto fica em seu flat, a 100 metros do Vaticano. Seus admiradores dizem que o mundo conhecerá agora um outro lado.

- Ele vai surpreender por causa da imagem quase caricatural que fizeram do cardeal que era - afirmou o cardeal espanhol Carlos Vallejo.

- O papado o libertou - concordou o padre Joseph Augustine Di Noia, agora o segundo na hierarquia da Congregação para a Doutrina da Fé, que o novo papa chefiava. Na missa, Ratzinger assegurou que promoverá a unidade cristã, entrando em contato com outras Igrejas, e que manterá o compromisso ecumênico especialmente de João Paulo II, ao buscar ''todas as fés e culturas''. Também se comprometeu em manter as reformas do Concílio Vaticano II, preocupado em não distanciar os jovens.

- Minha meta é ser amado, como ele foi. Creio que tenho seu apoio, pois sinto a mão forte de Karol Wojtyla - completou.

O primeiro teste de popularidade - será domingo, quando Bento XVI celebrará sua primeira missa pública e dará a benção do Angelus a esperados 500 mil fiéis. Detalhes do conclave vieram à tona ontem.

- Sob aplausos, Ratzinger chorou. Quando ia receber as vestes papais, parecia perdido. Mas no jantar já estava bem à vontade - contou o cardeal alemão Joachim Meinser. ele confirmou que Bento XVI recebeu mais do que os 77 votos necessários.

De acordo com a imprensa alemã, o único problema foi o entupimento da chaminé.

- A capela se encheu de fumaça - disse o cardeal holandês Adrianus Simonis. Já o britânico Cormac Murphy-O'Connor lembra do anúncio:

- Todos aplaudiram, mas ele ficou com a cabeça abaixada. Deve ter orado - estima. O arcebispo de Viena, Christoph Schönborn, disse, por sua vez, que Ratzinger brincou ao declarar o nome de Bento XVI:.

- Ele lembrou que o papado de Bento XV tinha sido breve, antes de citá-lo como um homem da paz em era de guerra - afirmou Schönborn. - Depois, falou de São Bento de Núrcia, pai do monasticismo e patrono da Europa.

A surpresa pela rápida conclusão tomou conta até da cozinha. Segundo Meisner, a freiras não tiveram tempo de planejar um menu especial''.

- Tinha sopa de feijão, aperitivos variados, salada e fruta. Também foi servido sorvete e brindamos com champagne - contou.