O Globo, n. 31597, 09/02/2020. País, p. 13

Projetos buscam eleger mais mulheres este ano

Guilherme Caetano


Se as eleições de 2018 ficaram marcadas pelas candidaturas laranjas de mulheres, três projetos que começaram este ano querem que o pleito municipal de 2020 seja lembrado pela forte presença feminina na política —e sem nenhum tipo de fraude. As iniciativas incentivam mais mulheres a se candidatarem e procuram ajudá-las a obter sucesso nas eleições.

A mais recente empreitada a sair do papel é o Vamos Juntas, projeto suprapartidário da deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP). Ela pretende apoiar cerca de 50 mulheres em todo o país, por meio de orientação, aulas de política e uma rede de apoio formada por outros parlamentares e profissionais experientes na área. — Na hora em que a gente quebrar as barreiras e as mulheres puderem competir em pé de igualdade, a gente vai estar falando de eleições mais qualificadas, mais competitivas — diz Tabata.

O Vamos Juntas vai disponibilizar mentores para capacitar e apoiar as candidatas. Além da própria Tabata, participam a deputada federal Maria do Rosário (PTRS), a secretária de Desenvolvimento Econômico do governo João Doria, Patrícia Ellen, os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Randolfe Rodrigues (RedeAP), entre outros. Fernando Grostein, irmão do apresentador Luciano Huck, a promotora Gabriela Manssur, e a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) são alguns dos embaixadores e terão o papel de ajudar a disseminar a mensagem do projeto.

Pesquisas de opinião

Além do Vamos Juntas, outros projetos vão voltar a campo. Criado em 2018 pela socióloga Karin Vervuut e pela cientista política Letícia Medeiros, o projeto Elas no Poder tem o objetivo de incentivar que cada vez mais mulheres se candidatem a cargos eletivos no Brasil, por meio de capacitação técnica. Naquele ano, Karin e Letícia já trabalhavam juntas com pesquisas de opinião em Brasília quando decidiram abrir uma empresa no ramo. O trabalho consistia em oferecer pesquisas estratégicas focadas em política a pessoas interessadas em se candidatar nas eleições.

— A gente percebeu que as únicas pessoas que compravam pesquisas e conseguiam investir grana para um pensamento mais estratégico nas campanhas eram os homens, principalmente brancos. Pensando nisso, a gente reparou que estávamos trabalhando para a manutenção de uma coisa que já existe e que, em vez disso, deveríamos usar nosso conhecimento para levar mais mulheres à política —diz Karin. Também em 2018, o Vote Nelas nasceu para incentivar mais mulheres na política, recomendando que elas se candidatassem e que o eleitorado votasse nessas candidaturas. Uma das lideranças é Duda Alcântara, presidente municipal da Rede em São Paulo. Duda diz ter notado naquela ocasião o surgimento de vários movimentos de renovação na política, mas que faltava algo mais qualificado para o público feminino.

As coordenadoras do Vote Nelas fizeram, então, uma pesquisa para entender as dificuldades para as mulheres entrarem e permanecerem na política. Assim, o Vote Nelas realizou uma curadoria de candidaturas femininas recomendadas pelo Brasil, abarcando uma variedade de espectros ideológicos — do Novo ao PSOL —, raça, orientações sexuais, identidades de gênero e experiências pessoais. Um dos critérios era que as candidatas deveriam prezar pelos direitos humanos e pela democracia.

Em 2020, Duda Alcântara e outras integrantes do projeto querem expandi-lo. — Antigamente, a gente queria o direito de votar, depois de se candidatar. Isso não basta mais. Agora a gente quer ser eleita — afirma.