O Globo, n. 31597, 09/02/2020. País, p. 14

Bolsonaro procura nome para cargo de Onyx

Gustavo Maia
Thais Arbex
Naira Trindade


O presidente Jair Bolsonaro tem indicado a aliados estar em busca de um nome sem pretensões políticas para substituir o ministro Onyx Lorenzoni na Casa Civil. Entre as possibilidades na mesa, está a de escalar um militar para a função.

A oito meses das eleições municipais, o presidente tem demonstrado incômodo com a possibilidade de auxiliares usarem seus cargos como ativo na disputa. A avaliação disseminada é a de que Bolsonaro deve se manter distante da corrida municipal para não expor o governo e a própria imagem. Nesse cenário, a presença de ministros em palanques pelo país — seja como candidato ou como cabo eleitoral — poderia ser lida como apoio do presidente e, consequentemente, trazer prejuízos à gestão federal. Segundo aliados, Bolsonaro não quer correr o risco de ver seu nome associado a eventuais derrotados ou candidatos à reeleição de gestões mal avaliadas. O presidente tem repetido com frequência que, se o partido Aliança pelo Brasil não sair do papel, ele não vai se meter na disputa.

Uma ala do Palácio do Planalto já sugeriu, inclusive, que o presidente aproveite o prazo de desincompatibilização de agentes públicos para as eleições municipais para fazer mudanças em seu Ministério. De acordo com esse grupo, essa seria “a desculpa perfeita” para dispensar alguns nomes, entre os quais o próprio Onyx. Segundo as regras estabelecidas pela Justiça Eleitoral, ministros de Estado que pretendam concorrer a prefeito neste ano têm de deixar o cargo quatro meses antes da eleição — ou seja, até 4 de julho. Na última semana, Bolsonaro fez gestos claros de que não quer ver qualquer integrante de seu governo envolvido na corrida municipal. Em todos eles, o principal destinatário da mensagem foi o chefe da Casa Civil. Na quinta-feira passada, por exemplo, Bolsonaro reconheceu publicamente que a atuação de Onyx em relação ao seu estado natal, o Rio Grande do Sul, é “um ponto a ser estudado”:

— É um ponto a ser estudado, tá ok? Qualquer ministro que, por ventura, queira aí usar o ministério (para), em vez de atender ao Brasil, atender ao seu estado ou ao seu município está fadado a levar um cartão vermelho. Eu não vou confirmar o que você falou aí, mas, em havendo… Naquele mesmo dia, o presidente já havia prometido demitir os auxiliares que usarem os ministérios para influenciar as disputas ou se cacifar para eleições. “Abra o jogo, se não vai pegar cartão vermelho de primeira”, afirmou em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”. Em julho do ano passado, O Globo já havia mostrado que Onyx dedicava parcela significativa de sua agenda para receber políticos gaúchos. Nos primeiros meses de governo, quase 20% dos mais de 350 registros de encontros com parlamentares, prefeitos e secretários estaduais e municipais eram de conterrâneos do ministro. Há no governo, no entanto, quem defenda que a substituição de Onyx não passe da próxima semana. Pessoas próximas ao presidente dizem que a demissão de Gustavo Canuto do Desenvolvimento Regional, na quintafeira, abriu a porteira para novas mudanças na Esplanada. No início da semana passada, Bolsonaro já havia evitado se comprometer com a permanência do auxiliar na chefia da Casa Civil. Questionado se o ministro ficaria no cargo, o presidente hesitou por alguns segundos e respondeu:

— Como eu não sou de recuar, eu não vou te responder, tá ok?

Na segunda-feira passada, em entrevista à Rádio Gaúcha, Onyx declarou que Bolsonaro lhe garantiu que não faria nenhuma reforma ministerial no momento. Três dias depois, Canuto caiu. Em busca da sobrevivência, Onyx passou a trabalhar para reconquistar a articulação política do governo, perdida em junho passado para a Secretaria de Governo, de Luiz Eduardo Ramos, e quer demonstrar que possui trânsito no meio político. O movimento, porém, é visto com reticência no Congresso porque não há como o ministro ocupar este espaço sem aval do presidente.