Título: Tensão começou há quase 5 meses
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/04/2005, Internacional, p. A7

A tensão política no Equador teve início no dia 8 de dezembro, quando uma maioria parlamentar, na época aliada do governo, destituiu os 31 juízes da Suprema Corte de Justiça (SCJ), que Gutiérrez acusava de se oporem a ele, e nomeou magistrados alinhados à coalizão governista, atentando contra a independência do Judiciário.

Depois de quase cinco meses de áridas discussões sobre a legalidade da ação, na última sexta-feira Gutiérrez demitiu os juízes. Dois dias depois, o Congresso deixou sem efeito a reforma de dezembro e prometeu que a escolha dos novos magistrados seria feita com métodos independentes. No entanto, não chegaram a nenhuma decisão na reunião marcada terça-feira para deliberar sobre a fórmula que seria usada para a substituição dos magistrados, o que irritou ainda mais os equatorianos.

Tanto a população como a oposição política questionaram ao longo dos meses a legalidade das decisões tomadas pela reformulada SCJ, principalmente a anulação das ações judiciais contra o ex-presidente Abdalá Bucaram (1996-1997). A medida permitiu que o ex-governante, acusado de corrupção, voltasse ao país no início de abril, após oito ano de exílio no Panamá. Simplesmente, Bucaram é amigo íntimo de Guillermo Castro, que atuou como presidente da controversa Corte.

O caso avivou ainda mais a polêmica e a população culpou diretamente Gutiérrez - coronel que foi eleito nas urnas em 2003, após liderar um golpe em 2000 - pelo retorno de Bucaram.

De fato, a instabilidade política no Equador não é novidade. O país teve cinco presidentes nos últimos oito anos. O último a ser destituído havia sido Gustavo Noboa, que era vice-presidente quando recebeu o poder em 2000, após o golpe. O mandato do também deposto Jamil Mahuad havia se deteriorado pela caótica situação econômica do país e por denúncias de corrupção.