Título: Novo presidente fecha as fronteiras
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/04/2005, Internacional, p. A8
Alfredo Palacio promete, 'em nome do povo', reconstruir as instituições políticas do país
AFP Palacio festeja com manifestantes a posse como presidente: portos e aeroportos foram fechados
QUITO - O presidente recém-empossado do Equador, Alfredo Palacio, ordenou ontem o imediato fechamento das fronteiras do país, para evitar a saída de vários políticos procurados pela Justiça, entre eles o mandatário destituído Lucio Gutiérrez. ¿ De imediato, ordenei que todas as fronteiras fossem fechadas, todos os aeroportos, todos os portos para que ninguém saia ¿ afirmou Palacio.
O novo presidente afirmou que ¿o povo tem razão¿, ao dizer que a troca de mandatários ¿não foi o fim de uma fase mas o começo¿ de outra.
¿ Necessitamos reconstituir o Tribunal Constitucional, o Tribunal Superior Eleitoral. Em nome do povo, tenho que reconstruir as linhas básicas dobre as quais edificaremos um novo país ¿ disse Palacio.
O mandatário já anunciou também nomes para o novo governo, como o do chanceler Antonio Parra Gil e de Mauricio Gándara, este cotado para assumir a chefia da Casa Civil (ministro de Governo).
¿ Não podemos convocar eleições porque se assim fizéssemos iríamos repetir os mesmos atos que levaram ao desmoronamento nacional. Vamos nos reunir com o povo para decidir. O partido Pachakutik [braço político dos indígenas] tem de ser governo ¿ ressaltou o novo presidente, que recebeu os representantes das manifestações que ocorrem em especial na capital desde dezembro passado.
Desta forma, segundo a Constituição Nacional, o Parlamento do Equador deverá eleger o novo vice-presidente da República.
¿Em caso de ausência definitiva do vice-presidente, o Congresso Nacional elegerá sua substituição, com o voto conforme a maioria de seus integrantes (51 dos 100 deputados), de um trio que apresentará o presidente da República¿, determina o artigo 174 da Carta Magna.
¿O vice-presidente eleito desempenhará esta função pelo tempo que faltar para completar o período de Governo¿, acrescenta o texto.
O Parlamento deu posse a Palacio como presidente do Equador, depois de destituir Gutiérrez, com 60 votos e duas abstenções.
Depois de duros protestos populares que exigiam a renúncia de Gutiérrez, uma maioria opositora do Legislativo o derrubou da presidência, alegando abandono de poder.
O novo presidente do Equador é um cardiologista de 66 anos. Desde o começo do mandato, Gutiérrez se distanciou de Palacio e se tornou um de seus críticos mais severos.
Nascido em 22 de janeiro de 1939 na cidade portuária de Guayaquil (segunda maior do país, 275 km a Sudoeste de Quito), Palacio exerceu a medicina nos últimos 37 anos. É diretor do Instituto Nacional de Cardiologia Alfredo Palácio, desde 1980, e professor de cardiologia da faculdade de medicina da Universidade de Guayaquil, desde 1989, além de professor de saúde pública, desde 2001.
Entrou na política como diretor regional para a província de Guayas da empresa estatal Instituto Equatoriano do Seguro Social (IESS) e do Ministério da Saúde.
Palacio afirma que nunca ¿cobiçou fazer política¿, mas cada vez que tinha oportunidade de fazer discursos tinha facilidade de fixar suas posições a favor dos mais pobres e se autodeterminou como alguém favorável ¿à mudança¿.
Não permite que seja caracterizado como direitista ou esquerdista, mas sustenta que ¿não teme a palavra esquerda, contanto que por esta se entenda o grupo que quer as mudanças que o povo precisa¿.
Por essa razão, admite, aceitou a proposta de Gutiérrez para ocupar a vice-presidência da República.