O Estado de S. Paulo, n. 46571, 20/04/2021. Economia & Negócios, p. B1

Análise: Guedes teve de engolir acordo

Adriana Fernandes


Sob artilharia pesada da coalizão do Centrão que apoia o governo do presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, teve que ceder e engolir um acordo para a sanção do Orçamento sem um limite fixo para os gastos extras nesta segunda onda da covid-19.

O desfecho da crise foi na direção contrária do que o ministro e sua equipe tentaram evitar desde o final do ano passado: um cheque em branco para gastos na covid-19 em 2021. Era isso ou fogueira já para Guedes, como mostrou reportagem do Estadão da semana passada. A fritura chegou a ponto de lideranças do Centrão saírem a campo na busca de nomes para uma equipe econômica “sem Guedes”. Ousadia máxima.

O “botão” da calamidade que o ministro não quis acionar não foi sancionado. E, por fim, a política acabou mostrando que a calamidade não era necessária. Com o acordo, o Congresso aprovou um orçamento de guerra dentro do Orçamento regular. O acerto político retira, na prática, a pressão que os gastos da covid-19 estavam exercendo nas chamadas despesas discricionárias (que podem ser cortadas, ao contrário das obrigatórias) do Orçamento e nas emendas. Com as despesas da covid-19 excluídas, o orçamento desses gastos (boa parte em obras) poderá andar como querem os políticos.

O Ministério da Economia sai dessa briga ainda mais isolado no governo e no Congresso.

Esse script da política estava desenhado.

O pacote de estímulo fiscal dos EUA foi o gatilho que os políticos precisavam para liquidar a fatura. É bom não esquecer. O Brasil vai gastar mais e aumentar o seu endividamento porque o governo negou a pandemia e trabalhou contra as medidas que poderiam ter evitado o desastre que o País vive. O irônico é que Guedes cedeu, mas vai continuar na fogueira. O Centrão quer dividir o seu ministério.

Repórter Especial da sucursal de Brasília