O Globo, n. 31599, 11/02/2020. País, p. 8

Em São Paulo, Skaf enfrenta resistência de aliados de Bolsonaro

Guilherme Caetano


A recente aliança entre Jair Bolsonaro e Paulo Skaf, presidente da Fiesp, já encontra resistência de deputados e apoiadores do presidente da República, que pretende dar ao empresário o comando do futuro partido Aliança pelo Brasil no estado. A oposição mais explícita foi revelada no último sábado durante uma palestra da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) a uma plateia de lideranças e militantes pró-Bolsonaro num hotel na Zona Norte de São Paulo.

Ao lado dos deputados Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), Guiga Peixoto (PSL-SP), Aline Sleutjes (PSL-PR) e da advogada Karina Kufa, tesoureira do Aliança pelo Brasil, Zambelli afirmou haver uma insatisfação da militância com a possibilidade de Skaf presidir a sigla em São Paulo. Um dos temores é que aliados de Skaf pouco alinhados com Bolsonaro tenham influência na burocracia partidária.

Skaf tem feito acenos públicos de apoio a Bolsonaro. Na semana passada, o presidente cumpriu parte da sua agenda em São Paulo ao lado do empresário, que se mostra entusiasta pela construção do Aliança no estado. Zambelli apaziguou os ânimos e afirmou que o nome de Skaf não deve vingar para o posto.

A deputada também revelou que, em meio às incertezas que cercam a sua viabilização a tempo das eleições municipais, o Aliança pelo Brasil já trabalha nomes para o pleito na capital paulista. Nesses planos, a chapa para concorrer à prefeitura de São Paulo deve ser encabeçada pelo deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP). Tomé Abduch, empresário e ativista do grupo conservador NasRuas, é cotado para ser vice.

— Muitos de vocês vieram me questionar a respeito da presidência do partido aqui em São Paulo. Alguns chegaram para mim e falaram assim: “Se for o Skaf, eu tô fora”. Mas a gente já sabe quem é o predileto a presidir o partido — afirmou, voltando-se para o colega Luiz Philippe de Orleans e Bragança.

Carla Zambelli tratou as informações como sigilosas. Antes de anunciar a empreitada, a deputada pediu que as pessoas presentes no salão do evento desligassem as câmeras e gravadores e fiscalizassem os colegas para garantir que ninguém infringisse o pedido. Em seguida, ela pediu que os profissionais da imprensa se identificassem e se retirassem do local.

Orleans e Bragança foi ovacionado com um coro de “Princeso! Princeso!”, uma referência à sua ascendência monarquista. Ele é descendente dos imperadores do Brasil Pedro I e Pedro II e conhecido como “príncipe”.

— A gente está ouvindo o nome do Eduardo Bolsonaro, que seria muito bem aceito, mas o Luiz Philippe é a pessoa mais discreta, mais preparada, competente para isso, tem perfil, sabe lidar com a imprensa. Ele é meu candidato a prefeito, junto com o Tomé de vice. Isso que eu estou dizendo é a minha opinião e a de algumas pessoas com as quais eu tenho conversado — disse Zambelli.

A deputada afirmou na sequência que “ainda é cedo para a gente falar isso para a imprensa, porque se não vai dar rolo” e que a escolha depende da aceitação do presidente Jair Bolsonaro.