Título: Governo vai propor novo escalonamento
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Fonte: Jornal do Brasil, 23/04/2005, País, p. A3

O Palácio do Planalto já tomou a decisão política de reajustar os soldos dos militares conforme compromisso assumido no último ano pelo então ministro da Defesa, José Viegas. O aumento, no entanto, pode não alcançar os 23% pleiteados pelos comandantes das Forças Armadas. Pelo menos esse ano. Uma das alternativas em estudo seria propor um novo escalonamento, que transferiria nova parcela do aumento para 2006. O reajuste está sendo negociado pelos ministros da Casa Civil, José Dirceu, do Planejamento, Paulo Bernardo, e pelo vice José Alencar. A orientação do presidente Lula é para que se encontre engenharia financeira capaz de assegurar o aumento, sem que haja prejuízo para áreas consideradas vitais para o governo, como a social. Pelos cálculos preliminares da área econômica do governo, o aumento de 23% hoje seria praticamente inviável.

Os militares cobram a segunda parcela do reajuste de 33% que teria sido acertado com o ex-ministro da Defesa, José Viegas. Em setembro do último ano, os militares receberam 10%, o que já havia provocado um impacto de R$ 23,9 bilhões no Orçamento de 2005. Os 23% restantes seriam pagos no primeiro trimestre desse ano, o que até agora não ocorreu. Atualmente, os vencimentos das Forças Armadas oscilam entre R$ 170 (recrutas) e R$ 10,5 mil (generais).

Os militares argumentam que os salários, em média, são inferiores aos do Legislativo, Judiciário e Ministério Público.

A demora em uma definição sobre este assunto começa a provocar reações entre os militares da reserva. O candidato à presidência do Clube Naval, Almirante Sérgio Tasso Vásquez De Aquino, divulgou em seu site pessoal (www.sergiotasso.com) um artigo em que critica a demora no reajuste e ataca duramente o Congresso Nacional. No texto ''Por que?'' o almirante diz que ''patrimônio comum dos brasileiros está entregue ao butim dos espertos''.

Em outro ponto, o oficial afirma:

''É fácil perceber que os níveis salariais no Congresso atingem a faixa da insensatez e da agressão''. O almirante continua: ''Alto e bom som, levanto-me e grito: Estou contra toda essa infâmia!''

No mesmo site, em uma entrevista, o almirante Sergio Tasso diz que foi contra a criação do Ministério da Defesa, pois a atitude ''visou ao afastamento dos militares do primeiro plano decisório da política nacional''. Sobre o reajuste dos militares, ele afirma que o argumento de que não existem recursos para as Forças Armadas é inaceitável. Ele conclama seus apoiadores a transformarem o Clube Naval num foro de debates para ''alertar e despertar a Nação, em ação conjunta com o Clube Militar e o Clube da Aeronáutica''.

O site do almirante foi criado para divulgar a sua candidatura e lá estão registradas dezenas de mensagens de apoio. Está no ar des outubro do ano passado e até agora teve pouco mais dois mil acessos.