Título: Alencar: juro tira aumento de militar
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Fonte: Jornal do Brasil, 23/04/2005, País, p. A3

Vice-presidente afirma que taxas elevadas impossibilitam também investimentos em áreas essenciais, como educação e saúde

Arquivo O vice-presidente retomou ontem as críticas às altas taxas de juros, o que tem feito desde o primeiro ano do governo

Ao comentar ontem no Rio os protestos de militares por reajustes salariais, o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, culpou os juros altos adotados pelo Banco Central. São eles, segundo Alencar, os responsáveis pela ''dura'' e ''difícil''' situação orçamentária, que impede correções nos soldos da categoria. Indagado sobre a possibilidade de o governo conceder aumento aos militares, Alencar ligou o problema à dívida pública:

- O orçamento passa por uma fase dura. Temos de verificar o que pode ser feito. O quadro é muito difícil. Porém, sabemos que o grande problema do orçamento está na rubrica juros, no que se refere à dívida pública brasileira.

O tom extremamente crítico que tem pautado as declarações do vice-presidente sobre o assunto, foi retomado ontem.

Ao discorrer sobre os juros, o vice-presidente foi longe, dizendo que as elevadas taxas (as maiores do mundo, lembrou ele) impossibilitam investimentos em áreas ''essenciais''.

- Isso está errado. É por isso (juros altos) que não há recursos para as necessidades essenciais: educação, saúde, saneamento, estradas e também a recuperação das [perdas salariais]das Forças Armadas e de outras categorias - criticou.

De acordo com Alencar, o Brasil pratica a maior taxa real (descontada a inflação) de juro do mundo, muito à frente de qualquer outra nação.

- Está situada acima da média dos 40 países que têm Banco Central e que usam a política monetária como instrumento para controlar a inflação, como corre no Brasil - afirmou o vice-presidente, após solenidade em homenagem ao Dia Nacional da Aviação de Caça, na Base Aérea de Santa Cruz, Zona Oeste do Rio.

Nesse conjunto de países, a taxa real de juro é de 1%, enquanto o juro real no Brasil está na casa dos 13%, segundo ele. A taxa básica Selic foi elevada pelo Copom nesta semana para 19,5% - houve alta de 0,25 ponto percentual na última reunião do comitê. Mas considerando uma inflação estimada de 6,5% para 2005, a taxa real fica na casa de 13%. -Isso significa 13 vezes mais do que a média de 40 países - afirmou Alencar, logo após o término da solenidade na Base Aérea.

Se se considerar apenas países emergentes, como o Brasil, a desproporção permanece grande, diz Alencar. Entre nações em desenvolvimento, o juro real médio é de 2%, de acordo com ele.

- Estamos (a sociedade, os empresários), portanto, pagando seis vezes mais do que países do grupo ao qual pertencemos.

Nos países ricos, afirma, a taxa real é de apenas 0,6%.

- Seria mais de 20 vezes o que estamos pagando no Brasil - continuou o vice-presidente.

Ao falar do pleito dos militares, Alencar defendeu a categoria, dizendo que eles não pedem aumento, mas sim apenas a recomposição das perdas provocadas pela inflação nos últimos anos.

- As Forças Armadas não estão pedindo aumento. Estão fazendo um pleito para recuperação de perdas. Se fosse de fato um reajuste, seria de no mínimo de 35%, pelo IPCA, que é o índice de inflação mais baixo - calculou.

Alencar reclamou ainda do sucateamento das Forças Armadas. Para o vice-presidente e ministro, Exército, Marinha e Aeronáutica precisam ser ''reaparelhados'', pois existem muitos equipamentos sem condições de uso.

De acordo com ele, alguns aviões e outros aparelhos de defesa têm de 30% a 40% de suas frotas ''indisponíveis'' por falta de manutenção ou porque simplesmente precisam ser substituídos.

-Há casos isolados de 70% de indisponibilidade de equipamento - revelou.