Título: BC adia fim da alta dos juros
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/04/2005, Economia & Negócios, p. A19

Elevação da taxa básica para 19,5% ao ano surpreende mercado e setor produtivo, que esperavam trégua no aperto monetário

BRASÍLIA e RIO - O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou ontem a elevação em 0,25 ponto percentual da taxa básica (Selic), de 19,25% para 19,5% ao ano. A oitava alta consecutiva dos juros surpreendeu o mercado e o setor produtivo, que acreditavam em manutenção. Com o novo ajuste, a taxa já subiu 3,5 pontos percentuais desde setembro.

O economista Guilherme Maia, da Tendências Consultoria, lembra que a aposta na manutenção se baseava na ata da reunião de março do comitê.

- O Banco Central demonstrava uma visão mais otimista para a inflação dos próximos 12 meses. A economia também se desaqueceu. A elevação pode significar uma preocupação persistente com uma inflação decorrente da disseminação da alta dos preços administrados (tarifas públicas).

A decisão do Banco Central eleva de 12,9% para 13,2% a taxa real de juros (descontada a inflação), mantendo-a como a maior do mundo, superando em seis vezes os 2% médios verificados nos países emergentes, segundo a Consultoria GRC Visão. O país também segue como campeão na taxa nominal, superando em 2,4 pontos a Venezuela, segunda do ranking.

O setor produtivo protestou contra a decisão do Copom. O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, salientou que a elevação da Selic ''frustou a sociedade, os empresários e os trabalhadores, que, com a mesma expectativa da eleição do novo papa, aguardavam a fumaça branca da redução dos juros''.

- É bom lembrar que, segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), a economia crescerá à média de 19% no período 2003/2006, fato inédito nos últimos 40 anos. Nos países desenvolvidos, a expansão será de 11,46%, nos emergentes, 28,52%, mas, no Brasil, apenas 13,48% - alertou.

A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) também reclamou. A entidade considera inadequada a decisão do Copom de dar continuidade ao processo de aperto monetário, ''quando já ocorre desaceleração da economia devido aos elevados juros reais cobrados no país''.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, disse que o resultado preocupa a indústria e todo setor produtivo. ''É lamentável que, na medida em que todo o país se empenha para construir uma agenda do crescimento, esta posição conservadora equivocada comprometa todo esse esforço que vínhamos construindo''.

Os sindicalistas também mostraram irritação. ''O presidente Lula deve tomar uma providência urgente em relação à política de juros, para que a sociedade não continue sendo afrontada pelo Copom'', criticou Luiz Marinho, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Desta vez, até o mercado fez críticas à elevação. O economista-chefe do Sindicato das Financeiras do estado do Rio de Janeiro (Secif-RJ), Istvan Kasznar, afirmou que o Copom tem sido coerente em suas decisões, mas, para ele, os juros brasileiros já são excessivamente altos e, por isso, não era oportuna mais uma elevação na taxa.

A alta de 0,25 ponto percentual, dizem os especialistas, terá pouco efeito sobre a inflação futura.

- Parece que ele (o Copom) quis dizer apenas que vai parar de subir os juros, mas aos poucos - afirma João Borges, gestor da Máxima Asset Management.

Alexandre Póvoa, economista da Modal Asset Management, diz que o Copom pode apresentar duas justificativas: a alta recente dos indicadores de inflação domésticos e a cautela com o cenário externo.

- O que questiono é: caso o cenário piore, o que o Copom vai fazer? Elevar mais uma vez em 0,5 ponto não vai adiantar - criticou.

Um dos poucos a apostar na alta de 0,25, o analista Alex Agostini, da GRC Visão, acredita que a elevação sinaliza uma tendência de queda.

- O Banco Central optou por interromper a seqüência de altas de forma gradual. Acreditamos que, no próximo mês, não haverá alta e, em julho, a Selic caia.

A Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) calcula que o aumento da Selic elevará a taxa média cobrada no crédito ao consumidor de 7,55% para 7,57% ao mês, o equivalente a 140,05% ao ano. A entidade também considerava desnecessária a nova alta da Selic.