Correio Braziliense, n. 20756, 21/03/2020. Política, p. 2
….e Bolsonaro cita “gripezinha”
Augusto Fernandes
Luiz Calcagno
Enquanto o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, falou em colapso do sistema de saúde devido à proliferação rápida do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro voltou a minimizar a gravidade da doença. Em meio à pandemia que assola o mundo, o chefe do Executivo emite sinais trocados: num momento, admite o problema, noutro, faz pouco caso. No fim da entrevista coletiva de ontem, por exemplo, ele, que estava de máscara, disparou: “Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar”.
A declaração foi em relação aos questionamentos sobre a saúde dele. Em meio ao crescente número de testes positivos de integrantes da comitiva que o acompanhou na viagem aos Estados Unidos, ele reafirmou que os dois exames aos quais se submeteu deram negativo, mas se nega a mostrar os resultados. “Eu estou bem. Fiz dois testes, talvez faça mais um, porque sou uma pessoa que tem contato com muita gente. Recebo orientação médica”, garantiu, em coletiva de imprensa. “Toda a família testou negativo. Talvez, eu tenha sido infectado lá atrás e nem fiquei sabendo. Talvez. E estou com anticorpos.” Mandetta saiu em defesa do presidente por não mostrar os resultados dos testes.“Os exames do paciente são do paciente. O seu exame, o seu prontuário, os exames que você faz são da sua intimidade. A gente não faz divulgação do exame. Nem seu, nem meu, nem de ninguém”, rebateu. Ele reforçou que Bolsonaro tem um médico assistente, cuja missão é “zelar pela saúde do presidente”.
“A dele (médico) é dado o timing e a maneira de monitorar. Se ele entender que o presidente precisa fazer teste, faz. Se der positivo, o que faz?Vai, comunica,porque vai ter de fazer isolamento, ficar em casa, como qualquer um, como eu posso ter de ficar,qualquer um.
Não é nenhum fim do mundo isso aí,uma coisa normal.” Da comitiva presidencial, já são 22 infectados. Os testes positivos mais recentes foram do assessor internacional da Presidência, Filipe Martins; o ajudante de ordens, Major Cid; do diretor do Departamento de Segurança Presidencial, Coronel Suarez; e do chefe do Cerimonial,Carlos França. Ao confirmar a situação dos integrantes da comitiva, Bolsonaro defendeu que o governo está sendo transparente. “Sim. Está confirmado. Nós não sonegamos informações”, declarou.
O presidente, por sinal, voltou a insistir na festa de aniversário para comemorar seus 65 anos de idade. “A festa é amanhã (hoje). Eu, minha esposa e filhos. Talvez venha a família dela. Não vai ter mais de oito pessoas”, emenda.