Título: Putin defende venda de armas à Síria
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 23/04/2005, Internacional, p. A8
Presidente russo diz que mísseis vão evitar ''vôos sobre a residência do presidente'' em Damasco
JERUSALÉM - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou, em uma entrevista a uma rede israelense de televisão, que as baterias anti-aéreas SA-18, que Moscou está ven dendo para a Síria, ''vão dificultar os vôos sobre a residência do presidente sírio [Bashar Assad]'' em Damasco, em uma alusão a supostas operações da Força Aérea de Israel. Mesmo assim, o presidente russo disse que Jerusalém não precisa se preocupar com a possibilidade dos mísseis russos caírem nas mãos de terroristas.
- Temos a capacidade de monitorar onde estão os mísseis - ressaltou Putin. - Não há possibilidade das armas chegarem nas mãos de organizações terroristas sem que nós não saibamos.
O líder do Kremlin vai visitar Israel na semana que vem - pela primeira vez como presidente, para encontros com o primeiro-ministro Ariel Sharon, que, na quinta-feira, reclamou da venda de mísseis a Damasco, alegando que a negociação gera uma ameaça a Israel. O governo israelense teme que as armas acabem nas mãos do grupo terrorista Hisbolá ou de facções radicais palestinas.
Formalmente, Israel e Síria permanecem em guerra e disputam as Colinas de Golã, anexadas pelo Exército israelense nas guerra de 1967. O Estado judeu acusa damasco de apoiar o terrorismo contra alvos israelenses e várias vezes já levou à frente ataques aéreos contra território sírio que, segundo Jerusalém, é utilizado por militantes radicais.
Putin também rebateu as críticas feitas por Israel e os Estados Unidos de que apóia o programa nuclear iraniano. O Kremlin afirma que as negociações com Teerã dizem respeito apenas ao suprimento de combustível para um reator com fins pacíficos.
- Não achamos que o Irã deve ser restringido na obtenção e na utilização de tecnologias modernas - disse o presidente russo. - Impor restrições ao Irã não vai adiantar, só vai complicar as coisas e gerar severas conseqüências.
A decisão de dar luz verde à venda de mísseis à Síria, mesmo com o alerta de especialistas militares de que o equipamento pode ser desmontado e transformado em arma de ombro, foi anunciada na véspera da viagem de Putin para o Egito, Israel e territórios palestinos.
Em Jerusalém, Sharon espera poder pressionar Putin com relação à venda mas, segundo analistas, não terá muito espaço de manobra. Uma postura menos flexível abriria a oportunidade de outros países intervirem nas exportações israelenses de armamento.
Segundo o ministro das Relações Exteriores Silvan Shalom, Israel quer que Moscou se alie a luta contra ''extremistas'' na Síria e no Irã, se quer ''ter um papel importante'' no Oriente Médio.
O problema é que o Kremlin tem, segundo especialistas, muitos interesses nas relações com os países árabes e com o Irã, em especial no que diz respeito ao mercado internacional de petróleo e de armas, duas das principais fontes de moeda estrangeira para a economia russa.
No caso do petróleo, a Rússia, apesar de não fazer parte da Opep, é hoje o segundo exportador mundial, atrás apenas da Arábia Saudita, e, por isso, tem interesse em participar da regulação do preço do produto no mercado.
No caso das armas, uma indústria herdada do regime soviético, os russos vêem a demanda por equipamentos de defesa que possam deter, segundo alguns governos, a agressividade de Estados Unidos e Israel como uma boa oportunidade de mercado.