O Estado de S. Paulo, n. 46575, 24/04/2021. Internacional, p. A12

Biden cita Brasil entre países com metas encorajadoras e faz aceno a Putin



Aproximação. Presidente americano afirma que tem desavenças com a Rússia, mas diz que os dois países podem cooperar para que algo seja feito na questão ambiental; Casa Branca considera que tom de Bolsonaro na cúpula do clima foi 'positivo e construtivo'

WASHINGTON

Ao encerrar ontem a cúpula do clima, o presidente americano, Joe Biden, expressou otimismo e fez um aceno à Rússia, tradicional rival dos EUA. "O presidente (Vladimir) Putin e eu temos nossas desavenças, mas os dois países podem cooperar para que algo seja feito." Biden também mencionou o Brasil, classificando de "encorajadoras" as iniciativas anunciadas por Jair Bolsonaro.

Após dizer que o evento trouxe "progresso" para o debate sobre os desafios para conter a emergência climática, o presidente americano mencionou quatro países. "Também ouvimos notícias encorajadoras de Argentina, Brasil, África do Sul e Coreia do Sul", disse Biden, quase no encerramento de sua participação.

Na quinta-feira, Bolsonaro prometeu mais recursos para a fiscalização ambiental, antecipou em dez anos a neutralidade climática do Brasil e reafirmou o compromisso de acabar com o desmatamento ilegal até 2030. Além dele, o presidente americano se referiu também à promessa do presidente da Argentina, Alberto Fernández, que anunciou o aumento para 30% do uso de fontes de energia renovável no país, sem estabelecer um prazo específico para a meta.

As outras duas referências foram à Coreia do Sul, que prometeu deixar de financiar centrais elétricas de carvão no exterior e afirmou que vai zerar as emissões de carbono até 2050, e à África do Sul, que se comprometeu a cortar 28% das emissões até 2025, em relação aos níveis de 2015.

Resultados. Na avaliação da Casa Branca, o encontro virtual de dois dias simbolizou um "começo" para que os compromissos sejam concretizados até a COP26, a reunião ambiental da ONU que será realizada em novembro, em Glasgow, na Escócia.

Para o governo democrata, o encontro serviu também para marcar o retorno dos EUA como protagonista das discussões climáticas, um espaço que havia sido perdido durante a presidência de Donald Trump – um vácuo geopolítico que vinha sendo ocupado pela China.

Durante dois dias, mais de 40 líderes mundiais participaram da cúpula e fizeram promessas para melhorar suas políticas ambientais. Bolsonaro adotou um tom conciliador e tentou passar a imagem de um governo comprometido com a preservação das florestas e das comunidades indígenas.

O discurso de Bolsonaro foi recebido com ceticismo por especialistas e diplomatas, que desconfiam da súbita conversão do presidente brasileiro ao ativismo ambiental, mas chegou a ser comemorado pela equipe americana na quintafeira. O governo Biden considerou que o tom do presidente "positivo e construtivo".

Negócios. Ontem, no encerramento da cúpula, Biden destacou a "oportunidade de criação de milhões de empregos bem remunerados" se houver investimento em energias renováveis e infraestrutura sustentável para frear a mudança climática.

"É uma oportunidade para se criar milhões de empregos bem remunerados em todo o mundo por meio de setores inovadores. Esse desafio será enfrentado por trabalhadores de todas as nações", afirmou.

Embora tenha falado para uma plateia internacional, o presidente também discursou para uma audiência doméstica. Como exemplo do impulso econômico que pode ser criado, Biden citou seu plano de infraestrutura no valor de US$ 2,25 bilhões, que está tramitando no Congresso. "Trata-se de criar melhores economias para nossos filhos e netos", disse.

Entre os participantes do última dia da cúpula estiveram o magnata Bill Gates, cofundador da Microsoft, Michael Bloomberg, enviado especial da ONU para o Clima e ex-prefeito de Nova York, e Fatih Birol, diretor da Agência Internacional de Energia.

O dia foi pautado por discussões sobre tecnologias verdes e oportunidades econômicas, mas sem deixar de lado o debate iniciado na quinta-feira sobre o que será necessário para implementar políticas ambientais mais ambiciosas./ WP, REUTERS, NYT e AP

Desafio

"É uma oportunidade para se criar milhões de empregos bem remunerados em todo o mundo por meio de setores inovadores. Esse desafio será enfrentado por trabalhadores de todas as nações"

Joe Biden

Presidente dos EUA