Título: PF desmonta quadrilha internacional
Autor: Hugo Marques e Marco Antônio Martins
Fonte: Jornal do Brasil, 15/10/2004, Brasil, p. A-3
Operação resultou na prisão de 21 integrantes de bando que enviava cocaína para a Europa pelo Aeroporto Tom Jobim desde 1999
Polícia Federal prendeu ontem no Rio e em Curitiba, no Paraná, 21 integrantes de uma quadrilha internacional que enviava cocaína para a Europa desde 1999, pelo Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim. Outras oito pessoas ligadas ao grupo já haviamsido presas este ano, algumas nas cidades de São Paulo e Campinas. Os traficantes pagavam até US$ 5 mil (R$ 14 mil) para cada mala que os funcionários da empresa Sata despachassem no aeroporto sem passar pelo raio-X, sob vigilância de policiais federais. A PF tem informações de que a quadrilha chegou a enviar, em uma única semana, três remessas de cocaína, vinda do Paraguai, Bolívia e Colômbia, pronta para o consumo, num total de 60 quilos, para Portugal e Espanha.
A direção geral da Polícia Federal, em Brasília, mobilizou 210 policiais no Rio, em Brasília, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo. A ação teve início às 6h, quando a PF começou a cumprir 21 mandados de prisão expedidos pelo juiz federal André Rizzo Molinari no município do Rio, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, e na Região dos Lagos. Além da ação no Rio, a Polícia Federal prendeu o nigeriano Olanrewaju Charles Ayakanmi, radicado em Curitiba e responsável por receber a droga vinda do exterior. A cocaína ficava armazenada em algum morro, aguardando o momento de ser enviada para a Europa. Com o nigeriano, a polícia apreendeu US$ 42 mil.
De acordo com as investigações, os traficantes residem na Zona Sul do Rio e na Barra da Tijuca. Entre os líderes da quadrilha, estão, segundo policiais federais, Ricardo Dantas Valente, conhecido como Pimenta, ex-presidente da escola de samba Grande Rio, e Leonardo dos Santos Aquino, que, de acordo com as investigações, também controlaria jogos de vídeo-pôquer. Os dois são apontados como os gerentes do grupo no Rio. Com o dinheiro do tráfico, Valente teria comprado duas mansões e um apartamento em São Conrado, onde morava, segundo a PF. Ontem, no momento de sua prisão, o diretor da Grande Rio dormia ao lado da mulher, grávida. A escola de samba negou que Ricardo Dantas Valente integrasse a direção da Grande Rio. Leonardo mora na Barra da Tijuca.
Outra peça-chave da quadrilha é John White Júnior, morador de um apartamento na Avenida Sernambetiba, na Barra. Segundo a PF, ele é filho do traficante John Michael White, preso em 1999 por comandar o envio de cocaína para a Europa nos aviões da Força Aérea Brasileira. Ele seria um dos administradores da quadrilha, junto com o irmão e mais outros quatro suspeitos, sendo responsáveis por receber a cocaína vinda da Colômbia, Bolívia ou Paraguai.
- Aqui, eles falam que não estão envolvidos com nada, mas com as investigações e as escutas telefônicas, a gente sabe que essas pessoas integram uma quadrilha internacional de drogas. Demos um golpe no grupo - afirmou o delegado Hebert Reis Mesquita, da Coordenação Geral de Repressão à Entorpecentes da Polícia Federal, em Brasília.
As investigações da Operação Esteira Livre começaram em dezembro de 2002, a partir das suspeitas de que o envio de cocaína para a Europa continuava ocorrendo, mesmo após a apreensão de drogas nos aviões da FAB, em 1999. Em 2002, a Polícia de Portugal prendeu a brasileira Sônia Helena Mello White com 32 quilos de cocaína em sua chegada a Lisboa. Ela foi seguida na capital portuguesa até ser detida com a droga.
Formada por pelo menos 34 pessoas, a quadrilha tinha integrantes com atividades bem definidas. Uma das pessoas que fazia os contatos para a comercialização da cocaína na Europa, segundo a PF, era Theresa Maria de Sá Lisboa Lobo. Quem cuidava dos embarques das malas recheadas com até 20 quilos de cocaína, segundo a PF, eram Walter Rodrigues de Oliveira, conhecido como Waltinho, e Wilson Vasconcelos. Entre as ''mulas'', contratadas pela quadrilha para acompanhar o despacho das malas, estavam Vagner Gomes Calandrini e João Zarif Tannus. Os funcionários da empresa Sata, responsável pela condução de bagagens no aeroporto internacional, acusados de receber dinheiro para despachar as malas sem passar pelo raio-X são Waltair Julião Tostes, Luiz Arouca Marques, Marco de Almeida Dalate e Willians Santos da Silva. A quadrilha tinha até um ''provador'' para testar a qualidade da cocaína exportada, o marroquino Rachid Masmoudi.
Também faziam parte da quadrilha os traficantes João Marcos de Souza Costa, de Cabo Frio, e Marcelo Lopes de Albuquerque, o Sukita, de Araruama.
A prisão da quadrilha foi festejada pelo governo federal. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que participava de uma campanha contra o desarmamento em Natal (RN), elogiou a ação da PF.
- Foi um golpe no tráfico de drogas. Faz parte do projeto para alcançarmos um Brasil mais seguro - declarou Bastos.