O Estado de S. Paulo, n. 46576, 25/04/2021. Internacional, p. A13
Análise: Cúpula mostrou o papel de Putin na geopolítica global
Roberto Uebel
Um dos destaques da cúpula do clima foi a participação de Xi Jinping e de Vladimir Putin, líderes de China e Rússia, cujos países foram e têm sido alvo de críticas por parte do governo americano nos últimos anos. Ambos se comprometeram a reduzir as emissões de carbono e de gases de efeito estufa, bem como a adotar energias limpas em suas economias.
A participação de Putin era aguardada em virtude do afastamento pelo qual Rússia e EUA vinham enfrentando desde o governo de Barack Obama e pela expectativa de como Biden se relacionará com os líderes das demais potências mundiais. Ou seja, a conferência organizada pelo governo americano também buscava preparar o terreno para uma aproximação calculada, segundo o modus operandi de Moscou e Pequim.
Em sua exposição sobre o comprometimento da Rússia com a redução de carbono e adoção de energias limpas, Putin enfatizou a meta de reduzir as emissões até 2050, um prazo distante do proposto por Biden e pela ONU, de 2030, que abre margem para que a Rússia siga em um processo lento. Apesar disso, o destaque foi o tom diplomático do presidente russo e a preocupação que levantou sobre a emissão de metano, cujos maiores emissores são Rússia e EUA.
O discurso de Putin apresenta uma visão de globalização pragmática (ou contida), que começa a dar seus primeiros passos neste momento em que a pandemia é freada gradualmente pela vacinação. Não devemos esperar uma proximidade de tempos passados entre Moscou e Washington, se é que existiu. Mas, a depender do discurso de Putin, há indícios de que a política externa russa de fato está preocupada com as questões globais – nos moldes russos, evidentemente. Entretanto, qualquer movimento de provocação por parte da potência americana terá resposta equivalente.
Portanto, a cúpula organizada por Biden serviu para mensurarmos a temperatura das relações internacionais após um ano de uma pandemia que trouxe impactos significativos para a geopolítica mundial, e o estágio em que a agenda climática se encontra. Se todos cumprirão suas promessas, resta aguardarmos até 2030. Ou, no caso russo, até 2050.
É Professor de Relações Internacionais da ESPM Porto Alegre